Um dos grandes fatores de sucesso do Spotify é sua
cultura. Cultura tende a ser invisível.
Nós não a notamos, mas está sempre ali, como o ar que respiramos.
Dentro de um contexto de trabalho, é importante que todos
entendam como funciona a cultura de uma empresa, para que seja possível manter
e reforçar esta filosofia, conforme a empresa for crescendo, ou tomando novos
rumos.
Quando o primeiro player de música do Spotify foi lançado
em 2008, a empresa era um Scrum. Para quem não sabe, Scrum é a metodologia de
desenvolvimento ágil. Ele é baseado em times. Entretanto, alguns anos depois, a
Spotify percebeu que algumas práticas comuns dos times, não só não estavam
ajudando, como estavam atrapalhando o desenvolvimento do trabalho.
O primeiro passo tomado por eles para mudar o processo, foi
tornar a forma de fazer opcional. A filosofia se transformou para: “Regras são
um ponto de partida, mas quebre-as quando necessário! ”
A inspiração é: agilidade importa mais do que qualquer prática específica. Após essa transformação cultural, a Spotify passou a chamar seus times de squads, ou equipe autônoma. A ideia era deixar de lado os líderes servos para priorizar os mestres de processos, sendo ideal que todos fossem um pouco mestres.
O que são squads
Um squad é um pequeno time auto organizado, multifuncional,
normalmente formado por menos de 8 pessoas. Eles sentam juntos, possuem responsabilidades
e conhecem todo o processo no qual estão envolvidos, de ponta a ponta.
A autonomia, basicamente, significa que a equipe decide o
que fazer, como fazer e como trabalhar junto. Essa liberdade é motivadora e
pessoas motivadas produzem mais. Autonomia
também torna rápida a tomada de decisão e ajuda a minimizar delegações, pois
ela não depende de decisões da coordenação.
Maior que isto, existe uma estratégia global, da área em
que a equipe está trabalhando, além de objetivos de curto prazo que são
renegociados todo bimestre. Embora cada equipe tenha sua própria missão, todas
precisam estar alinhadas com a estratégia do produto, com as prioridades da
empresa e das outras equipes. Todos fazem parte do mesmo ecossistema, onde a
missão geral é o mais importante para todos.
O espaço físico do escritório também recebe atenção
especial e é otimizado para a colaboração. Os membros da equipe trabalham
próximos, com mesas ajustáveis e fácil acesso aos monitores uns dos outros.
É como uma banda de jazz. Embora cada músico seja autônomo
e toque seu próprio instrumento, eles se escutam um aos outros e juntos formam
uma harmonia perfeita.
O objetivo é “equipes pouco acopladas, mas fortemente alinhadas”.
Nesse caso alto alinhamento e alta autonomia significa que os líderes focam em
quais problemas devem ser resolvidos, mas deixam as equipes decidirem como
resolvê-los. Quanto mais alinhamento, mais autonomia para as equipes.
Uma consequência disso é a baixa padronização de processos. Tudo é critério de cada equipe, sendo essencial que essas escolhas gerem resultados de alta performance.
Entenda na prática
Na prática, vamos supor que o squad A precise de algo que
seja feito no squad B, sendo esta última, a equipe que melhor conhece a operação.
O squad A pode pedir ajuda ao B, enquanto o B pode ou não aceitar o trabalho.
Caso o squad B não tenha tempo para auxiliar, uma nova operação pode ser criada
pelo squad A, ficando para o squad B apenas a função de revisar as alterações.
É assim que funcionam os squads. Se for necessário, qualquer membro de qualquer squad pode editar qualquer operação, porém a cultura pede que seja feita a revisão, para melhorar a qualidade e distribuir o conhecimento.
Obviamente, o essencial para que toda essa cultura seja
implementada e dê certa, são as pessoas. Nos squads, existe um forte respeito
mútuo, onde todo mundo se ajuda, gosta do que faz e é expert no assunto.
Para quem não está acostumado, autonomia pode parecer algo
assustador, no entanto, ela também é transformadora. Ninguém vai determinar o
que precisa fazer, mas se precisar de ajuda, todos estarão prontos para
auxiliar!
Nesse ecossistema equipes são formadas por pessoas
agrupadas em tribos, onde todos são membros de alguma seção. A equipe é a
dimensão primária, focada em entregar um produto de qualidade, enquanto a seção
é a área de competência.
Como membro de uma equipe, o líder da seção é o gestor focado em fornecer mentoria para seus membros. Esses líderes sabem o que se passa dentro de seus squads, assim como nos outros, o que torna possível a mudança de um squad para outro sem prejudicar o trabalho da empresa.
Divisão por interesses
A formação de comunidades com pessoas que tenham interesses
em comum também é outra estratégia usada pela Spotify. Pessoas se juntam para
compartilhar conhecimento, dentro de uma área específica. Essa interação promove
engajamento e network e é feita através de lista de e-mail, indicação de
cursos, workshops, dicas e outras formas de comunicação informal. A
participação não é obrigatória, no entanto, todos gostam de participar, pois
ajuda a se sentir parte do processo, além de adquirir conhecimento.
Em resumo, estruturas organizacionais hierárquicas já não
funcionam mais. Toda essa autonomia pode até parecer complicada no começo, no
entanto já está comprovado que a confiança é mais importante do que controle.
Agilidade em escala é sinônimo de confiança em escala e isso significa sem política,
mas principalmente sem medo.
Lembre-se que medo mata a confiança e principalmente o
desejo de inovar, especialmente porque se falhas forem punidas de maneira
severa e intransigente as pessoas ficam com medo de ousar e fazer diferente. Elas
ficam presas no processo de procrastinar, ou pior: depender dos outros para
atuar.