Google busca se manter o principal buscador
Sempre é um desafio para esse professor discorrer sobre assuntos ligados a assuntos tecnológicos complexos, bem como assuntos jurídicos de qualquer nível de profundidade. Quando se juntam os dois, a coisa complica mais ainda.
Entretanto, obediente que sou, tentarei aqui analisar a matéria indicada pelas meninas da Macfor a respeito do embate entre o governo americano e o Google, publicada recentemente no blog da Digiday. Vale a leitura.
Sob a ótica estratégico-mercadológica, trata-se da pressão exercida por um stakeholder que pode afetar diretamente a demanda de uma empresa em específico. Ao entender o contexto em detalhes, não se trata de uma grande novidade.
A pressão do governo é justificada no suposto fato do Google executar práticas na tentativa de se tornar quase um monopólio da publicidade digital.
A principal evidência dessa prática se concretiza em função do buscador estar presente “automaticamente” como a única ferramenta de busca em “pacotes” de sistemas de empresas de telecomunicações e fabricantes de dispositivos eletrônicos (celulares, smartTV´s e afins).
Em outras palavras, ao adquirir um smartphone, o Google já está lá prontinho para você usar. Somente ele, mais nenhum outro aplicativo que seja seu concorrente. Não pretendo entrar aqui no juízo de valor e muito menos opinar alguma coisa de caráter jurídico ou ideológico.
Aos queridos alunos e ex-alunos que trabalham em agências de comunicação digital ou aqueles que trabalham em empresas que são suas clientes, fica a recomendação de ficarem atentos. A coisa pode respingar por aqui.
O que chama a atenção é que a prática muito bem executada pelo Google não é inédita. E sob o ponto de vista de um velho professor de marketing rabugento é algo que merece aplausos em função de sua astúcia estratégica.
Caso fosse consultor ou “recomendador” de marketing do Google, não vou negar que indicaria a referida prática. Em termos estratégicos, algo perfeitamente lógico e vital para o exercício de sua vantagem competitiva.
Faz-me lembrar de uma sábia frase de um barbudo famoso: “Quem não tem pecados, que atire a primeira pedra!” Ou aquela pergunta popular, tão sábia quanto, mas de autor desconhecido: “Quem nunca?”.
A questão gira não somente em torno do fato de se conseguir executar a referida estratégia do Google, mas também de se tentar executá-la, ainda que não se consiga. Em ambos os casos, o juízo de valor é quase o mesmo. Afinal, tentar cometer um homicídio não o torna um homicida, mas o torna um criminoso.
Pensemos. Caso não fosse o Google o centro de toda esse imbróglio, certamente seria um de seus concorrentes, não?
Quando você está numa casa noturna, vulgo balada, e solicita ao simpático bartender um drink com vodka, saiba você que essa bebida, muito provavelmente, será a de um fabricante em específico. Caso peça pela marca de sua preferência, sendo ela a do principal concorrente da marca oferecida, você vai ter que se decidir entre aceitar o drink ou pedir outra coisa.
O mesmo vale para as lanchonetes, não? Isso virou até mote de campanha publicitária: “Tem X? Não? Então me vê um Y.” Quando não encontramos nossa marca preferida (e famosa) de algum produto alimentício em um supermercado, mas somente a de seu principal concorrente, algo está acontecendo.
A tentativa de tornar uma determinada oferta exclusiva em detrimento de ofertas concorrentes é uma prática recomendada até mesmo em livros didáticos que tratam do exercício da vantagem competitiva. Nesses mesmos livros, pode ser encontrada alguma análise dos riscos que essa prática traz inerentemente.
Alguns deles chamam isso da busca pelo “oceano azul”. Seria algo como: “Esteja sozinho no parquinho num lindo dia de sol e crie um estratagema para não deixar nenhum outro coleguinha entrar no recinto.” Isso pode ser feito roubando a chave do parquinho ou descobrindo um parquinho que ninguém conhece.
Mas que, com toda certeza que pode existir, ele será descoberto em breve.
Ricardo Poli é professor, palestrante, provocador, piadista e colunista da BRING ME DATA.
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As opiniões aqui contidas são de responsabilidade de seu autor e não refletem necessariamente a opinião da Bring Me Data e do blog da Macfor.