A juventude de Mark Zuck
Mais uma vez o garoto Zuck volta a estampar a ser manchete de colunas em jornais, revistas, blogs e afins em vários países do mundo. Falar de Mark sempre gera a possibilidade de muitos likes e engajamento.
Por altanaka/envato
Confesso que a criação do título desse texto segue a premissa. Entretanto, com algumas pitadas de ironia, deboche e sarcasmo, ingredientes já conhecidos pelos acidentais frequentadores dessa coluna do Bring Me Data da Macfor.
Dessa vez, a questão central gira em torno da alegação de que uso dos aplicativos da Meta não considera o bem-estar “mental-psicológico-espiritual” de seus mais de 30 milhões usuários adolescentes em território americano.
Para entender mais sobre a referida contenda, recomenda-se a leitura do texto genitor dessa coluna no blog da CNN de Portugal de 11/11/23. Trata-se de uma questão em voga nas terras do Tio Sam e na Europa, mas que teria pouquíssimas chances de ser pauta por aqui.
A ousadia de tal “quase certeza” é fundamentada na tratativa das plataformas digitais diante do Marco Civil da Internet. No velho continente e outros países mundo afora, as ditas “big techs” procederam de forma muito mais cordial e condescendente do que no terceiro mundo, ainda mais aqui no Brasil.
Grandes investimentos foram alocados a processos de relações públicas, propaganda e lobbys políticos. O retorno esperado: nada de regulamentação, sem restrições a fake news e inexistência de qualquer possibilidade de penalidades.
Pois bem, o estado de Massachusetts impetrou uma ação judicial no mês passado contra a Meta em função de alguns recursos presentes em seus aplicativos, tidos como planejados de forma a explorar de forma nociva a psicologia de um cérebro adolescente.
Na prática, o exemplo mais emblemático citado na ação judicial é o uso dos chamados “filtros de beleza” do Instagram, que permitem alterar as características físicas de seu usuário. Segundo o propositor da ação, isso prejudica a saúde mental dos adolescentes, visto que promove expectativas irreais da imagem de seu corpo.
Nesse ano, por conta disso, simplesmente desconsiderou ou demitiu executivos do topo de sua pirâmide, como o CEO do Instagram e seu presidente de Assuntos Globais. E pelo que se pode constatar, a proposta de mover esforços para a melhoria do bem-estar dos usuários tinha forte “tração interna”, legítima e genuína.
Não se pode contrariar um faraó! Nessa época, Zuck deu pouca importância à questão, alegando não existir base científica que comprovasse prejuízo ao bem-estar dos adolescentes, tão pouco algo que comprovasse “dependência, automutilação e bullying” por meio do uso de seus aplicativos.
E ainda apelou para o argumento do “bom e velho marketing” de que havia grande demanda pelos “filtros de beleza”, o que não pode ser questionado, mas entendido e atendido. Em tempo: foi recomendado por acadêmicos e consultores externos da Meta que tais recursos fossem desativados.
Em relação a ação judicial impetrada, a Meta, por meio do braço direito do jovem faraó, vulgo porta-voz de relações públicas, informou que os filtros de imagem são utilizados corriqueiramente pela indústria e que o império de Zuck coíbe sua utilização, principalmente aqueles que realizam “cirurgias estéticas, alterações na cor da pele ou perda de peso extrema”.
A velha senhora genitora desse velho professor de marketing rabugento diria diante dessa situação: “Se todos se jogarem da ponte, você vai se jogar também?”
Somado a isso, ainda em 2019, quando informada de que pesquisas internas e externas sugeriam que o uso dos aplicativos impactava de forma negativa o bem-estar das pessoas e tendo recebido propostas internas para contratação de mais engenheiros para desenvolver ferramentas de bem-estar para responder ao “vício, comparação social e solidão”, a Meta simplesmente recusou considerar as pesquisas e a financiar tal iniciativa.
Em contrapartida, o primeiro-ministro de relações públicas do reino disse recentemente que a plataforma está empenhada em “proporcionar aos adolescentes experiências seguras e positivas e que a corporação está desapontada com o fato de os estados não terem trabalhado com a Meta para desenvolver normas industriais.” Disse ainda que a plataforma oferece cerca de 30 ferramentas para apoiar os adolescentes e suas famílias.
Mas não é isso que se está tentando fazer agora? A legislação sempre vem a reboque da evolução tecnológica. Creio que seja impossível criar algum tipo de legislação a respeito de processos que ainda não existem, não? Nesse sentido. vale o mesmo raciocínio para o Marco Civil da Internet. Mas por aqui, fique tranquilo, pode continuar maquiando suas fotos para colocar no Tinder.
Mas a pressão vem crescendo para além das ações judiciais que, na humilde opinião desse escrevinhador, só ajudam a promover, ainda mais, o garoto Zuck.
Destaca-se, dentre outras, a declaração do diretor executivo de uma reconhecida entidade defensora da tecnologia, a Tech Oversight Project, onde afirma com todas as letras para quem quiser (e para quem não quiser) ouvir: “Estes documentos, que não geraram reações da Meta, provam que Mark Zuckerberg não está interessado em proteger a privacidade ou a segurança de ninguém. A podridão vai até ao topo”.
Mark Zuck tende a sofrer cada vez mais por conta disso tudo. Será?
Sempre tive a impressão de que os jovens faraós são imunes a qualquer tipo de sofrimento.
Ricardo Poli é professor, palestrante, provocador, piadista e colunista da BRING ME DATA.
Cadastre-se para receber a BRING ME DATA toda segunda para não perder as principais novidades e tendências do mercado com opiniões de grandes especialistas.
As opiniões aqui contidas são de responsabilidade de seu autor e não refletem necessariamente a opinião da Bring Me Data e do blog da Macfor.