Após um par de semanas de molho por conta de ajustes estratégicos deste blog e da admirável excelência dos serviços prestados pela concessionária de energia elétrica do Estado de São Paulo nos últimos dois finais de semana, este velho professor de marketing retorna a enfileirar palavras caóticas em busca de acidentais leitores e leitoras. Por conta da pauta sugerida, volta mais rabugento do que nunca.
No exato dia do envio da sugestão de pauta, o dia em que este nanoempreendedor dedicou-se arduamente a finalizar os processos operacionais de sua futura escola digital, o candidato à presidência dos EUA dedicou-se a fritar batatas em uma loja do McDonald’s. Ao final do dia, confesso que me senti mais feliz do que ele.
Trata-se de um fato nada novo para quem vive em terras tupiniquins, onde candidatos fazem questão de serem capturados em fotos comendo pastel de feira ou bebendo pingado (meia porção de leite e meia de café coado em copo americano) durante suas campanhas eleitorais. Vale até tomar cadeirada. Faz parte do arcabouço imagético do jogo político. Arrisco dizer que deve acontecer assim no mundo todo.
Todavia, isso não implica considerar que se trata de uma ação exclusiva ou típica do imaginado “marketing político”. Para quem conhece minimamente este escrevinhador metido a colunista, sabe que termos como “marketing digital”, “marketing olfativo” ou “marketing de qualquer coisa que não seja marketing” são meramente termos coloquiais, geralmente utilizados para facilitar uma conversa despretensiosa ou para venda de uma ideia genérica a quem nada ou muito pouco sabe sobre marketing.
Para quem entende além do nível da temperatura ambiente, facilmente percebe que os princípios de marketing são exatamente os mesmos, seja o “objeto central” um sanduíche, um político ou uma escola digital. A inteligência está em concretizar tais princípios, seja qual for o contexto mercadológico com o qual se depara, em estratégias e ações efetivas, eficazes e eficientes. De preferência, compreendendo que “cada caso é um caso”, algo distante das “fórmulas secretas mágicas milagrosas” que tanto se tenta vender no universo digital do “marketing digital”.
Esse é o caminho mais difícil, pois requer pensar o marketing “sob medida”. A fórmula pronta é uma tentação, pois não requer o ato de pensar. Caso não dê certo, a culpa é dela. Ou toda sua, por não ter conseguido executá-la de forma plena ou correta. “Você deve agora comprar a mentoria para que tudo dê certo.” Tem muita gente no universo digital ganhando e perdendo dinheiro por conta disso. Pensar “sob medida” é doloroso, requer repertório muito além da temperatura do sol e a obrigação de saber conviver constantemente com a incerteza.
Quanto ao fato de o Sr. Trump criar o simulacro de trabalhador da rede de fast-food do icônico palhaço, nada de novo no front. Caso fosse a Sra. Harris, o comentário seria o mesmo, que fique claro. Tudo foi planejado, arquitetado e construído para que acontecesse do jeito que aconteceu. Como já disse antes, se tem algo de bom que o estudo do marketing te propicia na vida, é não ser ingênuo.
A lanchonete onde tal ação de marketing ocorreu foi fechada um dia antes, a partir das 16:00, para que o circo fosse bem armado e o espetáculo sucedesse de forma perfeita. Assim aconteceu, causando um grande furdúncio nas redes sociais. Objetivo alcançado para além do que se podia imaginar. Teve até “post” de uma brasileira residente na região recebendo sanduíche, refrigerante e fritas do candidato. Por conta do que ela esbravejou, torço para que fique por lá.
Em suma, uma ação perfeita, condizente com uma estratégia pré-estabelecida bem pensada, calcada em criar um “factoide constrangedor” ao oponente, com o intuito de desmoralização contraditória a um fato de sua vida pregressa. Kamala afirmou ter trabalhado no McDonald’s quando estudava na universidade; Trump trucou e aumentou a aposta. Assim foi feito com Obama em relação a ele ser, de fato, um cidadão americano. A estratégia (intitulada “birther” por lá) continua a mesma, a ação muda conforme o contexto.
Quem sai realmente ganhando com isso? Certamente, o McDonald’s. Sua marca passou a ser o centro do universo americano, e além dele, por um dia inteiro. A rede de fast-food mais famosa do mundo torce para que os republicanos passem a ir ainda mais lá, por conta de Trump. E torce para que os democratas passem a ir ainda mais lá, em solidariedade a Kamala. Vale a leitura da matéria da CNN para obter mais detalhes a respeito de tudo isso.
Obama apresentou sua certidão de nascimento e ganhou a eleição.
Kamala vai agir da mesma forma?
Se assim o fizer, Trump ficará, mais do que nunca, com cara de Donald.
Ricardo Poli é professor, palestrante, provocador, piadista e colunista da BRING ME DATA.
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As opiniões aqui contidas são de responsabilidade de seu autor e não refletem necessariamente a opinião da Bring Me Data e do blog da Macfor.