Nos últimos anos, a imagem do agronegócio internacional tem sido alvo de intensas críticas tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Porém, em solo norte-americano, esse desafio parece ser ainda maior.
As representações negativas das grandes corporações agrícolas e da agricultura industrial nas produções culturais, como a série de comédia “Farmed and Dangerous” da Chipotle, indicam um cenário onde a desinformação e as preocupações com questões ambientais ganham destaque.
Mas por que nos Estados Unidos a percepção sobre o agronegócio é tão negativa? E como as marcas agrícolas brasileiras se comparam nesse cenário? Vamos entender.
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Chipotle e o agronegócio industrial
A Chipotle Mexican Grill, uma cadeia de restaurantes de fast food, é conhecida por seu foco em ingredientes frescos e de origem sustentável. Para se distanciar da imagem de empresas que utilizam práticas agrícolas em grande escala e com impacto ambiental negativo, a marca produziu uma série de comédia chamada “Farmed and Dangerous”, em tradução literal significa: “cultivados e perigosos”, que satiriza a agricultura industrial.
A série, disponível no Hulu, segue um enredo onde vacas explodem após consumirem pellets de petróleo, uma crítica irônica às práticas que priorizam o lucro acima da saúde animal e ambiental.
Chipotle, que foca em um modelo de negócio baseado na alimentação sustentável, usou essa produção como uma forma de reforçar seus valores sociais e ecológicos, ao mesmo tempo em que se distancia de uma indústria agrícola considerada predatória.
A marca pretende usar o humor e a sátira para provocar a reflexão sobre as práticas irresponsáveis de algumas empresas agrícolas, principalmente as que estão voltadas para a produção em massa e com pouca transparência sobre suas práticas ambientais e de bem-estar animal.
No entanto, a série gerou críticas de grupos de agricultores, que acusam a Chipotle de atacar injustamente as fazendas familiares nos Estados Unidos. A Wisconsin Farm Bureau Federation, por exemplo, classificou a série como “propaganda divisiva”, argumentando que ela distorce a realidade das práticas agrícolas, que na maioria das vezes são responsáveis e éticas.

A imagem do agronegócio brasileiro
Embora o agronegócio brasileiro também enfrente críticas, especialmente no que se refere à expansão das fronteiras agrícolas e ao impacto da agricultura no desmatamento, o cenário no Brasil parece ser mais equilibrado quando comparado ao dos Estados Unidos.
Nos EUA, o debate sobre o agronegócio está profundamente marcado por questões de bem-estar animal, uso excessivo de pesticidas, antibióticos na carne, e práticas de monocultura intensiva que impactam o meio ambiente. Nos últimos anos, grandes corporações como a Tyson Foods e Cargill enfrentaram críticas por suas práticas em grandes plantações de soja e milho, que são utilizadas para alimentar o gado em confinamento e alimentar a indústria alimentícia.
Tais práticas são frequentemente associadas à poluição ambiental, ao tratamento inadequado dos animais e ao uso excessivo de recursos naturais.
Por outro lado, o agronegócio brasileiro, apesar das críticas que recebe em relação ao desmatamento e ao uso de agrotóxicos, tem mostrado grandes avanços em termos de responsabilidade socioambiental.
Marcas brasileiras como JBS, Marfrig e Amaggi, entre várias outras, têm feito grandes investimentos em práticas sustentáveis para garantir melhores qualidades de vida aos animais e ao meio ambiente e se alinhar com as demandas globais por mais transparência e responsabilidade.
Responsabilidade socioambiental no agro brasileiro
A conscientização ambiental tem se tornado um pilar central de grandes marcas agro no Brasil. O Plano ABC (Plano Agricultura de Baixo Carbono) do governo brasileiro, por exemplo, incentiva práticas agrícolas sustentáveis, como recuperação de áreas degradadas e redução da emissão de gases de efeito estufa.
Além disso, grandes empresas agroindustriais estão investindo em certificações ambientais e em programas de bem-estar animal.
JBS, uma das maiores empresas de proteína animal do mundo, criou em 2020 o “Compromisso com o Desmatamento Zero”, uma iniciativa que visa monitorar e reduzir os impactos ambientais em suas cadeias produtivas.
A Amaggi, outra gigante do agronegócio, tem se destacado por seu trabalho no programa de rastreabilidade da soja, garantindo que o produto comercializado não esteja associado ao desmatamento ilegal na Amazônia.
- JBS: a JBS anunciou um investimento de R$10 bilhões em práticas sustentáveis até 2030, com foco na redução das emissões de carbono e na rastreamento da cadeia de fornecimento.
- Amaggi: a Amaggi implementou um sistema de rastreabilidade para toda a sua produção de soja e se comprometeu a não comprar soja de produtores que não sigam os critérios ambientais estabelecidos pelo Protocolo de Soja Livre de Desmatamento.
O desafio do agro internacional
Nos Estados Unidos, a imagem do agronegócio está sendo constantemente moldada por campanhas críticas de organizações ambientais e pela mídia, como evidenciado pela série da Chipotle. Ao contrário do Brasil, onde o agronegócio enfrenta pressões em relação ao desmatamento, as questões de bem-estar animal e uso de recursos naturais estão no centro do debate.
Enquanto isso, as marcas agro brasileiras estão tomando a frente na responsabilidade socioambiental, com iniciativas claras e mensuráveis para mitigar os impactos ambientais e sociais.
O setor agro no Brasil, mesmo enfrentando desafios globais, tem mostrado maior consciência socioambiental em comparação com seus semelhantes estadunidenses, o que pode ser uma vantagem estratégica em um cenário onde a sustentabilidade se tornou crucial para a imagem das marcas e suas relações comerciais com outros países.
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