Durante muitos anos, minha identidade profissional foi construída em ambientes de alta exigência e performance. Como executiva, minha rotina envolvia decisões estratégicas, negociações complexas e metas ousadas. Eu estava acostumada a viver sob pressão, a entregar resultados consistentes e a ocupar um lugar de protagonismo nas organizações pelas quais passei.
E então, a vida me presenteou com um novo papel: a maternidade.
Me tornar mãe foi uma mudança de paradigma. Não apenas na minha rotina, mas na forma como enxergo o mundo, o trabalho e a liderança. De repente, precisei lidar com um novo tipo de desafio: mais silencioso, mais íntimo e, ao mesmo tempo, imensamente transformador, enfrentei o dilema silencioso que muitas mulheres em cargos de liderança vivem, mas poucas verbalizam: como continuar sendo uma profissional de alta performance e, ao mesmo tempo, ser uma mãe presente, disponível e consciente?
Esse dilema, que tantas mulheres enfrentam, chegou até mim com força total. No início, no meio de tanta transformação tentei manter o ritmo anterior, como se nada tivesse mudado. Mas a verdade é que tudo havia mudado. E, principalmente, eu havia mudado.
Não sou mais a executiva de antes, e isso, percebi, não é uma perda. É uma evolução.
A maternidade me ensinou lições que nenhum MBA foi capaz de oferecer. Aprendi sobre vulnerabilidade real, sobre o valor do tempo e sobre o poder da escuta. Me tornei mais objetiva, mais empática e mais estratégica. Aprendi a dizer “não” com mais clareza e a priorizar com mais sabedoria. Descobri que liderar uma equipe e criar um filho têm mais semelhanças do que aparentam: ambos exigem presença, consistência, paciência e muita escuta ativa.
Claro, os desafios existem: a culpa materna que insiste em aparecer, os julgamentos velados de quem ainda acredita que precisamos escolher entre ser mães ou líderes, o cansaço — físico e emocional — e a necessidade constante de conciliar agendas, expectativas e demandas que, às vezes, parece maior do que qualquer reunião de board. Nada disso é simples.
Mas os ganhos superam. Ser mãe me ampliou. Trouxe propósito ao que antes era focado em desempenho. Me conectou com uma profissional mais humana, mais afetiva e, paradoxalmente, mais eficiente.
A verdade é que não há fórmula única, mas existe uma escolha diária. Hoje, mudei a minha forma de trabalhar. Iniciei uma nova etapa na minha carreira, alinhada com a minha realidade atual e com os valores que a maternidade reforçou em mim. Redesenhei minha agenda, ressignifiquei minhas prioridades e passei a oferecer entregas mais estratégicas, com mais foco e propósito.
Sim, é possível estar nos dois lugares: no centro da decisão estratégica da empresa e no chão da sala, brincando com blocos coloridos. Não com a perfeição que nos ensinaram a buscar, mas com a presença verdadeira que o novo tempo nos convida a construir.
Não é sobre buscar perfeição — essa armadilha que tanto nos cobra. É sobre construir uma presença real, com coragem, limites, afeto e escolhas conscientes.
Sou Executiva. Sou mãe. E sigo aprendendo, todos os dias, a arte de equilibrar os dois papéis com coragem, limites e amor.
Paula França é gestora especialista em planejamento estratégico e transformação digital com mais de 20 anos de experiência em varejo.
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