A pedidos das meninas da MACFOR, voltamos ao hype. Dessa vez, para falar sobre futebol, mais especificamente da Copa do Mundo de Clubes da FIFA. Já estava dando o que falar mesmo antes de começar, em várias frentes. Duas delas com maior intensidade. Uma ligada à prática esportiva, a outra à prática dos negócios. O mais interessante é constatar a mudança de discurso dos canais especializados. Nada como a bola rolando…
Em termos futebolísticos, canais especializados, e apaixonados, desfilaram um caminhão de críticas em relação à escolha dos times participantes, ao calendário estabelecido pela FIFA e ao local de realização do torneio. Devido ao caráter dessa coluna, não vou me ater a questões técnicas ligadas à prática esportiva mais popular do planeta. Mas é de se estranhar que em um torneio que se propõe a reunir os melhores times do mundo haja um confronto entre o maior time da Alemanha e um desconhecido time amador da Nova Zelândia. Resultado:10×1.
Isso só comprova que futebol e negócios caminham juntos. Na Alemanha, mas não na Nova Zelândia. Futebol de alta performance se tornou um negócio e nunca mais deixará de ser. Uma transformação que foi gradativa e inevitável. Os nostálgicos ainda se incomodam com essa realidade. Mas precisamos deles para garantir a memória de um período pré-histórico ao contexto atual. O torneio é nas terras do Tio Sam? Então o time de Messi precisa disputar o torneio! Se o Auckland City vai disputar o título, por que não Inter Miami? Messi atrai público. Business is business.
Futebol e negócios se tornaram, e vão se tornar cada vez mais, miscíveis a ponto de serem inseparáveis. As marcas sabem disso. O futebol passou a ser um palco de exposição de grandes marcas quando suas transmissões pela TV se tornaram cada vez mais populares. Basta ver um jogo da Copa do Mundo de Seleções de 1970 para se constatar esse fato. Foi a primeira transmitida mundialmente ao vivo e em cores. Repare nas marcas penduradas nas arquibancadas.
Desde então, tudo se aprimorou em relação à lógica inerente aos negócios esportivos: direitos de transmissão, comunicação à beira do gramado, patrocínios, direitos de imagem, naming rights e, mais recentemente, as ativações de marca em pleno andamento do jogo. Goste-se ou não, foi nisso que deu. As ativações de marca realizadas durante o referido torneio nos EUA são um prato cheio, suculento e saboroso para professores de marketing e disciplinas afins. Uma pena serem pouco disseminadas por aqui.
Vale lembrar que existe certa limitação de ações por conta do fato da Copa do Mundo de Clubes ser um evento promovido pela FIFA. Assim sendo, só marcas patrocinadoras do evento ou dessa entidade podem ousar fazer alguma nesse sentido. E se existe uma entidade que sabe vigiar abusos ou ações de “marketing guerrilha” em relação a seus torneios, essa entidade é a FIFA. Ouso arriscar que alguém de lá vai ler esse artigo. Parece pretensioso, eu sei, mas eu não duvido. Tomara que goste e seja generoso com esse velho professor de marketing rabugento.
No caso dessa copa mundial de clubes, os patrocinadores são: Adidas, Airbnb, Bank of America, Betano, Budweiser, Coca-Cola, Lenovo, Motorola (ela mesma!), PIF (Fundo Soberano da Arábia Saudita), Qatar Airways e Visa.
A FIFA, hoje, é uma entidade poderosa em termos financeiros, políticos e, obviamente, esportivos. As cifras envolvidas são indecifráveis para a maioria dos mortais, suas articulações políticas transcendem o mundo futebol e essa prática esportiva em qualquer lugar do universo é regida por ela. Uma Copa do Mundo de Seleções pode impactar significativamente a economia de um país, bem como sua imagem institucional e localização geográfica. Afinal, a última copa fez com que muita gente soubesse onde fica o Catar.
Não é uma história de conto de fadas, ao contrário, parece mais uma série sobre conspirações, principalmente no período em que seu presidente foi um brasileiro. Escândalos dos mais variados tipos mancham sua história. Nesse sentido, vale lembrar que o atual torneio teve seus direitos de transmissão adquiridos pelo streaming esportivo DAZN (acredito que se pronuncia “dazon”, o que me lembra uma marca de tempero) por um bilhão de dólares.
O streaming cedeu os direitos de imagem sem custo para mundo todo. O PIF (Fundo Soberano da Arábia Saudita) adquiriu parte do DAZN pelo mesmo um bilhão de dólares que, coincidentemente, é o valor das premiações do torneio. Resultado: a Arábia Saudita vai sediar a Copa do Mundo de 2034 sem que haja qualquer abertura para disputa de sede dessa versão do torneio.
Nessa época, muitos passarão a saber onde fica a Arábia Saudita.
Ricardo Poli é professor, palestrante, provocador, piadista e colunista da BRING ME DATA.
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As opiniões aqui contidas são de responsabilidade de seu autor e não refletem necessariamente a opinião da Bring Me Data e do blog da Macfor.