A elasticidade da demanda do amor
Ouso afirmar que todos os desafios do marketing, pequenos, médios ou grandes, em essência, giram em torno de uma única palavra: demanda. E como não poderia deixar de ser, penso nisso cada vez que escrevo um texto para essa coluna.
É a busca semanal, e incessante, de um encontro com a origem da demanda que posso atender por meio de palavras encadeadas de forma despretensiosa, sabendo que a origem de toda e qualquer demanda existente neste planeta mercadológico é sempre uma pessoa.
No caso desse professor, trata-se de um processo que aposta na eventualidade acidental de um “match” entre aquilo que escrevo e aquilo que alguém está buscando ler como forma de informação ou entretenimento. Ainda tenho esperanças de que bons encontros ainda estão por vir.
O que me deixa de certa forma aliviado é saber que tal esperança está presente em todo e qualquer ser humano, bem como em todo negócio que pretende oferecer algo para o mundo a ganhar dinheiro com isso.
Nesse sentido, vale o destaque de que algumas “esperanças humanas (quase) unânimes” podem vir a se tornar a essência de muitos negócios. Nada mais óbvio em termos mercadológicos, visto que um negócio pode prosperar grandiosamente quando se dispõe a atender uma demanda também grandiosa.
O Tinder é um hipermercado
E uma das demandas mais unânimes da humanidade é aquela que advém da esperança atrelada à busca por um encontro amoroso. E sim, ela também passou a ser a origem de negócios digitais grandiosos. Novamente, algo bem óbvio, visto que tal demanda já era a origem de outros tantos negócios “não-digitais” que surgiram ao longo da história.
Tinder, Snack, Bumble, Badoo, Happn, dentre outros tantos, foram criados e potencializados a partir de uma das demandas mais antigas do mundo. E as formas de atendimento dessa demanda vêm se tornando cada vez mais sofisticadas.
Na prática, tais aplicativos se tornaram grandes prateleiras para qualquer pessoa vender aquilo que acredita ser o produto perfeito: elas mesmas. E, como num supermercado, um bom lugar na prateleira pode custar muito, visto que a possibilidade de sucesso das vendas de um produto pode depender muito dessa condição.
Sabendo disso, tais aplicativos passaram a oferecer planos de serviço onde seus usuários podem garantir mais exposição e uma reposição que nunca deixará seu lugar vazio na gôndola. Como sempre, o mundo virtual é reflexo da vida real.
Nesse ramo de negócio, existem os “empórios com nome de santo” destinados a ofertas de produtos sofisticados, como é o caso do The League, que chega a custar 1000 dólares por semana a seus usuários.
Nessa lógica, pode-se afirmar que o Tinder seria algo como um hipermercado, oferecendo produtos dos mais variados tipos com os mais variados preços. Seu mais recente planejamento cogita a oferta de um plano mensal de 500 dólares mensais. Vale a reflexão imaginativa de quem seriam os aplicativos do tipo “mercadinho de bairro”.
E a coisa não para por aí, existem ainda os supermercados que passaram a oferecer uma compra mais garantida e sem o esforço de sair de casa, como é o caso do Snack. Em tempo: parece que esse nome soa como algo ousado e atrevido, não?
Dentre outras coisas, como a penalização por “ghosting” (algo como conseguir um match e não dar a mínima pelota para isso), o Snack criou, por meio da IA, a possibilidade de diminuir a frustração do primeiro papo ou do primeiro encontro, algo muito comum para usuários desses aplicativos. Por mais incrível que possa parecer, um avatar do usuário, treinado para se tornar o próprio usuário, pode se dar ao trabalho que passar por tal experiência constrangedora. Nada mais útil, não?
Por fim, caso estivesse em sala de aula analisando esse caso, algum aluno prodigioso oriental poderia me indagar: “Poli! E a demanda? Elástica ou inelástica?”. Obviamente, esse professor responderia com aquela palavra que serve como justificativa para toda e qualquer pergunta sobre marketing: “Depende…”.
Na prática, recomendaria que o aluno pensasse na elaboração de uma resposta que fizesse analogia ao setor de supermercados. Existem supermercados cuja competitividade depende da oferta de preços agressivos, outros que não, ainda que ofereçam, em parte de seu portfólio, exatamente os mesmos produtos. Elástica ou inelástica, trata-se de uma de uma demanda que sempre vai existir e que sempre terá a mesma origem: pessoas que precisam se alimentar. De comida e de afeto.
Ricardo Poli é professor, palestrante, provocador, piadista e colunista da BRING ME DATA.
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As opiniões aqui contidas são de responsabilidade de seu autor e não refletem necessariamente a opinião da Bring Me Data e do blog da Macfor.