A transformação digital e as novas tecnologias possibilitam o surgimento de inovações de maneira acelerada. Com isso, as alterações de expectativas no mercado são frequentes e as empresas precisam constantemente se adaptar ao novo cenário. Portanto, uma cultura ágil ajuda a responder com rapidez aos anseios das novidades.
Não parece fácil e realmente não é. Estar sempre atualizado é um grande desafio para as organizações, principalmente as que possuem uma estrutura menos flexível, como as multinacionais. Nesse cenário, startups surgem e crescem com uma rapidez que as empresas mais tradicionais não compreendem.
Ser ágil não é simplesmente ser rápido. É entregar valor para o seu cliente/empresa/time em um espaço de tempo menor, ou seja, não esperar o final do projeto para validar se era isso que ele realmente queria e esperava. Em vez disso, é preciso dividir um grande projeto em entregas menores, validando o valor dos entregáveis em pequenas partes.
O que é cultura ágil
Ao falarmos em cultura ágil, estamos falando em uma mudança de pensamento. Refere-se a uma maneira diferente de enxergar a interação entre as pessoas, clientes e processos.
As organizações ágeis se mobilizam rapidamente, são capacitadas e possuem facilidade para agir. Elas basicamente respondem como se fossem um organismo vivo e se expressam em 4 tendências atuais:
- Ambiente em rápida evolução – cobrança de todos os lados para um crescimento e resultados acelerados.
- Introdução constante de tecnologia disruptiva – uso inovador de modelos de automação, empresas digitalizadas, conhecimentos em Internet das Coisas, machine learning e robótica.
- Aceleração da digitalização e democratização da informação – comunicação multidirecional, transparente e colaborativa.
- Guerra pelo talento – proposta de valor atraente para adquirir e reter os melhores talentos, que são os que estão sempre aprendendo.
O Manifesto
O Manifesto Ágil foi criado em 2001 por programadores que buscavam formas mais eficientes de tocar seus projetos. Ele leva alguns valores que devem ser preservados, como transparência, confiança, empoderamento das pessoas, maior interação entre os seres humanos, geração de valor de negócio no menor tempo possível, etc.
Se o Manifesto passar a fazer parte do DNA da empresa, é possível ter os clientes e colaboradores muito mais próximos e engajados, de forma horizontal. Confira abaixo os 4 valores propostos:
- Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos
- Responder a mudanças mais que seguir um plano
- Software em funcionamento mais que documentação abrangente
- Indivíduos e interação entre eles mais que processos e ferramentas
Benefícios da cultura ágil
Segundo a pesquisa State of Agile Marketing Report 2019, entre os benefícios que empresas do setor identificaram após implementar uma abordagem ágil, estão: mudar os direcionamentos com rapidez, melhor visibilidade nos projetos, identificar obstáculos com antecedência e obter maior qualidade no trabalho.
Em uma cultura ágil, também ocorre o aumento da produtividade, gestão e acompanhamento de projetos e a satisfação dos colaboradores.
Isso acontece porque o método evita reuniões improdutivas, planejamentos intermináveis, hierarquização excessiva, microgerenciamento e frustração pelo desenvolvimento de soluções às quais o mercado já não necessita mais.
Também é possível notar o aumento da velocidade de lançamento de novos produtos e serviços, assim como adaptação mais rápida às mudanças de mercado, especialmente em momentos de instabilidade (como estamos passando com a pandemia causada pelo vírus COVID-19, por exemplo).
O impacto direto nas métricas dos times ágeis são impulsionados pela colaboração entre pessoas de diferentes áreas e competências.
Como implementar
Antes de tudo, precisamos deixar claro que não existe fórmula mágica! O processo depende majoritariamente da vontade de mudar a maneira de pensar, entendendo que ações massivas nem sempre são a melhor solução. É uma tarefa complexa pois exige mudança organizacional, partindo dos seguintes princípios:
1) Menos comando
Todos devem ter responsabilidade sobre os seus atos, contando com um direcionamento acerca do trabalho, mas se organizando e realizando as atividades de forma orgânica, sem ordens diretas.
2) Equipes menores
Grandes equipes perdem o foco com mais frequência, enfrentam ruídos de comunicação e são difíceis de reunir para uma reunião, por exemplo. Com equipes menores a comunicação é facilitada, todos ficam cientes sobre suas responsabilidades e as respostas podem ser dadas de forma imediata, como se espera em uma cultura ágil.
3) Responsabilidades para todos
Em uma empresa ágil, todos os colaboradores possuem responsabilidades de tomar decisões tendo como foco central o cliente.
4) Liderança de apoio
A figura do líder não é esquecida, mas sim transformada. Esses que antes eram responsáveis por tomar todas as decisões, agora funcionam como uma consultoria de apoio quando os colaboradores estão inseguros em relação à uma escolha.
5) Pontes de informação
Toda informação que possa agregar valor aos demais deve circular livremente e de forma transparente para conhecimento de todos. A experiência compartilhada é positiva para toda a equipe.
O funcionamento de uma organização que adota a cultura ágil pode variar já que existem diversas metodologias que podem ser aplicadas, como Scrum, Kanban e Lean. Fora as metodologias tradicionais, existem também as mutações e combinações entre elas que nascem da necessidade de adaptação das empresas.
Para garantir a sobrevivência do próprio método, é preciso ter como prioridade treinar e recompensar os profissionais atuais, além de, no processo de contratação, buscar talentos que tenham uma mentalidade mais propensa aos métodos ágeis.
Outras recomendações importantes são:
- Tenha certeza que a sua equipe realmente sabe o que é uma cultura ágil. Vale lembrar a todos que não significa apenas implementar rapidez nos processos, mas sim uma mudança de pensamento.
- Explore e entenda as opções. É possível adaptar as metodologias existentes de forma que elas façam sentido para a sua empresa. Segundo a pesquisa State of Agile Marketing 2019, 54% das empresas usam uma metodologia híbrida, ou seja, não existe uma única forma correta de implementar a cultura ágil.
- Faça um teste: selecione alguns membros da sua equipe e faça um teste. Documente o que deu certo e o que não deu e aplique as melhorias ao implementar a metodologia em novos times.
Cases de sucesso
Ford
Vamos voltar nos anos 1910. Nessa época, a Ford era uma pequena companhia fabricante de automóveis. Uma década depois, a empresa possuía 60% de participação no mercado mundial de automóveis.
O que ela fez? Reduziu o tempo de montagem dos veículos de 12 horas para 90 minutos. Além disso, o custo de produção também foi reduzido de $800 para $300.
As ideias da empresa foram eficientes e otimizaram a produtividade na época. No passado vivíamos o paradigma da máquina e, hoje em dia, os desafios trazidos pela revolução digital são outros.
Spotify
Agora, vamos retornar para exemplos mais recentes: o Spotify é uma empresa que utiliza a cultura ágil. No início de suas atividades, em 2008, a empresa utilizava o método Scrum. Com o decorrer do tempo, identificaram que ele não supria mais todas as necessidades e desenvolveram um framework capaz de atender sua demanda, que foi renomeado para Agile Coach.
Amazon
Hoje, a Amazon é a maior loja virtual do mundo. Novas ideias estão sempre sendo testadas na empresa de Jeff Bezos, como análises de clientes, e-mails personalizados, compras com um clique, etc.
Uma das estratégias inovadoras do empresário tem o objetivo de evitar reuniões desnecessárias e equipes improdutivas e ficou conhecida como a “regra das duas pizzas”. Bezos nunca faz reuniões ou estabelece equipes em que duas pizzas não seriam suficientes para alimentar todos os envolvidos.
A ideia parte de que, quanto mais pessoas em uma reunião, menos produtivo será o encontro, pelos seguintes motivos:
- É extremamente difícil chegar em um consenso;
- Poucas críticas construtivas e muitos “não gostei”;
- Poucas ideias novas;
- Nem todos os envolvidos contribuem, porque críticas e equipes grandes inibem algumas pessoas.
Apple
A Apple é uma grande empresa que funciona como uma startup, incrivelmente colaborativa. Lá, as pessoas são encarregadas por pequenas partes de projetos e se reúnem por 3 horas uma vez por semana para conversar sobre o que estão fazendo e como estão fazendo.
Dessa forma, todos trabalham no mesmo produto, cada um em uma etapa do processo e sem perder a visão geral, graças à colaboração e comunicação entre a equipe.
Facebook
Na empresa de Mark Zuckerberg, quando um projeto é estabelecido, uma equipe de cerca de 7 pessoas se reúne para executá-lo. As pessoas são escolhidas de acordo com as habilidades necessárias para realização do projeto, ou seja, elas vêm de departamentos diferentes. Essas equipes multidisciplinares – chamadas de squads – têm ganhado espaço nas empresas por conta do seu modelo otimizado de trabalho.
No Facebook, a equipe é reunida em uma sala, de onde trabalha com autonomia até que o projeto seja finalizado. Nesse ambiente, eles possuem todos os materiais necessários e cada colaborador trabalha na parte do projeto em que são especialistas, mas sempre em conjunto. Isso faz com que, por sempre estarem em contato, eles se falem diretamente e com frequência, evitando os ruídos de e-mails, mensagens, etc.
Depois de conferir esse conteúdo e alguns cases de sucesso, podemos concluir que a cultura ágil surge para que as organizações possam lidar com clientes cada vez mais exigentes, que buscam uma experiência única em um mercado inconstante. Como a sua empresa está se adaptando às novas necessidades do mercado?