Festival Hacktown: a energia e criatividade que não se vê em Austin
O Festival Hacktown é um fenômeno anual que acontece todo 3° trimestre na deliciosa Santa Rita do Sapucaí, sul de Minas, mobilizando enorme população flutuante interessada em aprender sobre criatividade, inovação e tecnologia, compartilhar histórias, se divertir com música, festas e bons papos.
No Inatalks, podcast oficial do Inatel, gravei episódio ao lado do João Rubens, um dos fundadores do Festival, contando que o projeto lá na origem, em 2016, visualizava trazer meia dúzia de palestras, em 3 pontos da cidade, com a expectativa de atrair 50 pessoas.
De início, mais de 600 deram as caras, indicando que aquela ideia tinha futuro.
Em 2023, o festival diz ter reunido diariamente mais de 10 mil entusiastas de todo Brasil para uma agenda de 4 dias intensos, e todos parecem dispostos a retornar nas próximas edições e, como apóstolos, trazer novos colegas para provar daquela atmosfera vibrante.
Foi minha segunda expedição ao Hacktown e a percepção positiva só aumentou, confirmando a potência do evento.
Tem aquela coisa mágica do festival acontecer na pequena cidade mineira, com história surpreendente a ponto de nutrir há décadas um vibrante ecossistema de inovação, principalmente ligado à área de eletrônica e telecomunicações, gerando centenas de empresas, startups e negócios diversos.
Vale a pena conhecer as sementes espalhadas por Sinhá Moreira que viabilizou a fundação da primeira escola técnica em eletrônica do Brasil e a sétima do mundo:
- em 1959, a chegada do Instituto Nacional de Telecomunicações;
- em 1965, o projeto de uma incubadora para produzir transmissores para sinais de TV;
- ainda nos anos 1970, o apoio e envolvimento da comunidade no crescimento e fortalecimento do ecossistema, o nascimento das primeiras startups.
Hoje, a cidade molda o festival, é parte inseparável do evento. Não seria pertinente fazer um Hacktown Pirenópolis ou Pomerode ou Crateús. Hacktown é Santa Rita. Da mesma forma, Santa Rita e seu ecossistema se fortalecem e se oxigenam com o festival. Simbiose na veia!
Como me contou um amigo querido, um dos criadores do movimento, o menos importante são as palestras. Elas são muitas, diversas, preciosas. Foram cerca de 800 apresentações na programação de 2023.
Claro que há muita gente falando de IA e seus impactos, construção de futuros, sustentabilidade, empoderamento feminino, cidades inteligentes, relação com o corpo, potências regionais fora do eixo Rio-São Paulo e por aí vai.
No entanto, o mais importante de tudo são as conexões humanas, a conversa nas filas, nas calçadas, nos cafés, nas pracinhas.
A recomendação é provocar o delicioso Joy of Missing Out (Jomo), escolher algumas poucas palestras por temas que lhe interessam, concordar que não se pode passar o tempo todo dentro das salas para também dedicar tempo ao “ócio conectivo”, dançando ao som das bandas variadas, contemplando o pôr do sol, e principalmente conhecendo gente nova e reencontrando amigos.
É curioso. Lá parece que as pessoas, mesmo aquelas que se fecham em seus guetos e comunidades no dia-a-dia, deixam suas armaduras em casa, incorporam o humor mineiro para se abrir, acolher quem chega, trocar ideias com atenção verdadeira por uns minutos.
Vai ver tem até explicação científica. Vou pedir ao Prof. Carlos Nazareth, amável diretor do Inatel, que nos explique se há algum efeito das ondas eletromagnéticas de Sapucaí sobre essa disposição da maioria das pessoas em incluir, comungar e colaborar.
Tem muita diversidade por lá. Isso é maravilhoso. Mas sempre pode evoluir. Será muito bom ver mais pretos e pessoas com deficiência no meio das multidões que povoam os espaços.
Observei que a população parece aprovar a invasão anual. Claro que há efeitos positivos óbvios como mais oportunidades de trabalho, renda, diversão, mas seria razoável gerar também desconforto. Pergunte aos nativos de Floripa se gostam do movimento turístico todo verão.
Mas ali, vi muitas famílias colocando suas cadeiras na varanda para ver o movimento, escutar as bandas, dar informação carinhosa para quem precisava, hospedar os turistas com gentileza, se misturar nos eventos. Uma combinação de acolhimento com integração.
No meio da programação espalhada por alguns quarteirões, entre o próprio Inatel, a Escola Técnica, e muitas outras casas e bares, há vivências coletivas de saúde como meditação, dança circular e outros rituais. E música boa, tem para todos os gostos. Roda de samba, funk, cubana, jazz, indie, MPB, metal… Bem como a oportunidade de participar do criativo projeto Sofar Sounds, criado em Londres em 2009 com aquele efeito de mistério para saber na hora onde será o show musical e quais talentos tocarão naquela noite.
Os patrocinadores estão crescendo de olho nos visitantes-formadores de opinião. Passei por espaços interessantes como a Casa Claro, Arena Sebrae, Garagem da Unilever, Sandbox da Vale, Espaço Sicredi, Sala Ambev – Zé Delivery, Casa Dinamarca e muito mais.
No saldo extremamente positivo, voltei exausto, mas com alegria imensa, alguns bons insights, conexões reforçadas e muitos novos amigos.
Fizemos a “avant-première” do nosso DOC “Ecossistemas de Inovação”, produzido pela Prosa Press e dirigido pela incrível Patrícia Travassos, muito bem recebido pelo público, com direito a um painel de discussão precioso do qual participei.
Nossa World Creativity Organization esteve presente, levando conteúdos sobre Criatividade e Liderança Criativa em vários momentos, interagindo o tempo todo com a comunidade.
Quando sou convidado para aulas e podcasts e me perguntam sobre recomendação de leituras, hoje acrescento outros formatos e certamente a experiência de viver o Hacktown é uma de minhas fortes sugestões.
Nosso Festival do “Dia Mundial da Criatividade” é um primo próximo do Hacktown, com espírito parecido, mas com personalidade própria moldada pela vocação de ser descentralizado, colaborativo, refletindo a singularidade de cada cidade. Como falei, Hacktown é Santa Rita com toda sua magia, seus cafés, queijos e voos de garças.
É bom ir a Lisboa, Israel, Madri, mas dá para buscar muitas transformações e crescimento em Santa Rita do Sapucaí. De repente, até mais relevantes e autênticas.
Como vi num vídeo compartilhado em grupo de whatsapp, o grito de guerra em coro de animados inovadores, passeando à noite dentro daquele trenzinho iluminado que costuma encantar as crianças no Natal, comprovava as vantagens desse peculiar festival brasileiro em comparação com o célebre SXSW dos norte-americanos: “Isso não tem em Austin”! “Isso não tem em Austin!” E não tem mesmo!
Coloca o programa na sua agenda e nos encontraremos por lá.
Luiz Serafim é apaixonado por inovação, palestrante, professor, diretor-executivo da “World Creativity Day” que organiza o maior festival colaborativo de criatividade do mundo e colunista da BRING ME DATA.
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As opiniões aqui contidas são de responsabilidade de seu autor e não refletem necessariamente a opinião da Bring Me Data e do blog da Macfor.