Após um mês de geladeira imposto pelas meninas da Macfor pelo excesso de rabugice empregado nos textos dessa pretensiosa coluna semanal, esse velho professor de marketing volta a escrever em busca de uma rara coincidência junto a acidentais leitores e leitoras do universo digital. E como se não bastasse, impuseram a esse escrevinhador metido a colunista um tema que certamente esteve presente na adolescência de todas elas. Em tempo: a rabugice só aumentou…
Sim, ela fez 50 anos. A Hello Kitty também envelheceu. Na idade, mas não na aparência, algo só possível no mundo imaginário dos personagens infantis. E nas prévias festivas dedicadas a seu cinquentenário, propositalmente ou não, a empresa criadora dessa personagem icônica fez questão de afirmar, mais uma vez, que não se trata de uma felina.
Segundo matéria do Washington Post (WP), Jill Koch, o vice-presidente sênior de marketing e gestão de marca da SANRIO, afirmou categoricamente no programa Today: “Hello Kitty não é uma gata. Na verdade, ela é uma garotinha nascida e criada nos subúrbios de Londres. Ela tem uma mãe, um pai e uma irmã gêmea, Mimmy, que também é sua melhor amiga.”
Se se trata da criação proposital de uma polêmica com vistas a gerar burburinho nas redes sociais, nunca saberemos. O que se sabe é que, de fato, o assunto “hypou” em terras digitais do “novo velho” rei britânico. Por sinal, em maio desse ano, o recém-empossado morador do Palácio de Buckingham, em seu discurso em um banquete de estado “nipo-inglês”, proferiu uma saudação especial à Hello Kitty em virtude de seu aniversário. O “velho novo” rei disse: “Criada em um subúrbio de Londres com sua irmã gêmea, uma empreendedora self-made que vale bilhões de dólares e uma embaixadora infantil da UNICEF. Então, só posso desejar um feliz aniversário para… Hello Kitty!”.
Coincidência ou não, a saudação foi muito parecida com a declaração do referido CMO ao famoso programa de TV inglês. O mais impressionante foram as reações dos telespectadores nas redes sociais diante de sua declaração. Algo que chega a ser exótico, para não fazer uso de outra palavra e tomar mais um mês de freezer, dessa vez.
A reportagem do WP relata depoimentos como: “Então, se ela é uma garotinha, como é que a cabeça dela tem formato de gato?”. Ou ainda: “Não acredito que estou sendo enganado a pensar que isso não é um gato. É um gato e tem sido um gato durante toda a minha infância.” Uma mensagem dizia: “Você não pode mudar nossas mentes tão tarde no jogo. Ela é uma gata.” Outra pessoa esbravejou: “Eu não me importo com o que alguém diga. Você não está roubando minha infância. É isso, FIM!”.
Vale lembrar que não é a primeira vez que algo desse tipo acontece. Em 2014, em entrevista ao Los Angeles Times, a antropóloga, e especialista em Hello Kitty, Christine Yano disse: “Ela é uma personagem de desenho animado. Ela é uma garotinha. Ela nunca é retratada de quatro. Ela anda e se senta como uma criatura de duas pernas.” As reações de alguns fãs à época foram exatamente as mesmas. E, pasmem, sim, existe uma antropóloga especializada em Hello Kitty.
A concepção original da personagem remete aos anos 1970 quando a referida fabricante oriental de brinquedos criou a Hello Kitty para mulheres japonesas que admiravam a Grã-Bretanha. Segundo a SANRIO na reportagem do WP, “seu nome verdadeiro é Kitty White e ela nasceu em 1º de novembro nos subúrbios de Londres. Ela é uma aluna da terceira série que gosta de fazer novos amigos, viajar e comer biscoitos.”
Ao contrário de muitos personagens populares, ela não teve sua origem em um programa de televisão, filme ou história em quadrinhos. Sua imagem começou a ser estampada em produtos em 1974, quando seu público começou a crescer a uma velocidade estonteante, desde então. A empresa afirma que a personagem está licenciada em cerca de 50.000 produtos presentes em 130 países.
Confesso que pouco sabia sobre a Hello Kitty e nunca comprei qualquer um de seus produtos, nem mesmo para presentear alguém. Mas sua história só reforça aquilo que, a duras penas, tento engrunhar na mente de meus alunos e empresários que presto consultoria: “Marca, antes de tudo, é um conjunto de ideias que deve ter potência para, naturalmente, gerar um conjunto de significados e um conjunto de associações.”
O caso da personagem japonesa é um exemplo admirável desse princípio, onde nada do mundo real, racional e prático será capaz de convencer pessoas de que não se trata de uma simpática felina adolescente que nunca envelhece. Segundo a SANRIO, seu propósito da personagem permanece o mesmo há meio século: “Sua mensagem principal é amizade, gentileza e inclusão”. Ouso afirmar que isso jamais mudará.
Seja bem-vinda ao grupo dos cinquentões, Hello Kitty! Esse velho professor de marketing adentrou a ele recentemente, assim como a Barbie, o Post-it, o Cubo Mágico, o Bailey´s, o Kinder Ovo, o Golf da VW, dentre outros tantos que estão chegando.
Ricardo Poli é professor, palestrante, provocador, piadista e colunista da BRING ME DATA.
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As opiniões aqui contidas são de responsabilidade de seu autor e não refletem necessariamente a opinião da Bring Me Data e do blog da Macfor.