Case de sucesso do Velho Mundo: como a Europa conquistou todos com produtos de luxo
O velho continente está sempre ganhando muito dinheiro de uma forma singular: a partir das inseguranças culturais e estéticas dos outros países do mundo.
Você pode pesquisar sobre o relógio Bulgari Serpenti. O artigo é de ouro, aço e diamante, e tem uns modelos que dão três voltas no pulso, caso alguém não repare na primeira.
Outro exemplo é a bolsa a tiracolo Marmont Matelassé da Gucci, com seus distintivos “G” em ouro e uma alça também dourada, caso o material dourado não seja suficiente. E, por fim, veja a camiseta da Givenchy, claramente identificada com a estampa “GIVENCHY”.
Sem pretensões ao julgamento do que é bom gosto, é possível afirmar que esses produtos são considerados de gosto duvidável, refletindo uma noção ingênua do que seja o glamour. Vestir-se ou utilizar esses itens não denota status, mas sim carência e facilidade para ser influenciado.
Mas então por que esses produtos têm tanto prestígio internacional? Veja a seguir.
O prestígio dos produtos de luxo da Europa
Muitos argumentos insustentáveis têm sido apresentados contra o crescente setor franco-italiano de artigos de luxo. Contudo, não se pode rotulá-lo como imoral, uma vez que empresas como a LVMH empregam pessoas e contribuem com impostos.
Além disso, não é relevante compará-lo com o setor tecnológico dos EUA, pois cada economia possui suas especialidades e vantagens comparativas. A Europa não deve abrir mão de suas competências em prol de se tornar uma espécie de “Silicon Valley”.
Essas críticas não abordam o aspecto central do assunto: a qualidade intrínseca questionável desses produtos e a habilidade da Europa em convencer mercados não europeus a desejá-los. Não se sugere que Bernard Arnault, presidente da LVMH, esteja zombando da América e Ásia, mas é inegável que ele sabe que pode lançar quase qualquer produto e encontrar um público disposto a pagar preços elevados por eles.
Muitos na sua posição, provavelmente estariam reunindo ideias às 3h da manhã só para testar o que o público estaria disposto a aceitar, como por exemplo, “carregador de celular folheado a ouro” ou “casinha de cachorro de marfim”.
O fenômeno do luxo no setor nos revela importantes aspectos da política mundial, muito mais do que seria possível extrair de uma entrevista com Henry Kissinger, por exemplo.
Uma das observações relevantes é a atitude do Sul global em relação aos seus antigos opressores, que é mais complexa do que muitas vezes é demonstrada. Há uma dose de desconfiança, justificada em grande parte, bem como um certo sentimento de superioridade, que muitas vezes tem seus fundamentos.
Nem os europeus têm tanto apreço pelo mercado de luxo da Europa
Por outro lado, também existe um senso de status em relação à Europa em certos aspectos de gosto. O escritor V.S. Naipaul abordou essa ansiedade das ex-colônias de copiar a metrópole, assim surge a necessidade de estrangeirizar diversas coisas, como sotaques, modos e nomes. O exemplo mais próximo é o “pão francês”.
Com o surgimento de uma próspera classe comercial em países menos desenvolvidos, essa inspiração evoluiu para o desejo de consumir as melhores marcas do Velho Mundo. Contudo, isso reflete, em última análise, uma insegurança e dúvida sobre o próprio valor cultural e nacional.
Embora o comércio do luxo não seja imoral, é isso é um tanto lamentável. Existe um aspecto engraçado em um estilo de vida luxuoso global, com pisos de mármore, móveis brancos, taças de champanhe, perfumes muito fortes e restaurantes com assentos especiais para bolsas.
O problema não reside apenas na aparência brega, mas na imitação de uma estética que é vista com ironia e desprezo dentro do próprio mercado europeu.
A ideia de Europa
Alguns argumentos em defesa do luxo incluem o argumento de que seus artigos mantêm o valor ao longo do tempo. De fato, talvez alguns deles o façam, mas quantos compradores efetivamente os revendem ou os usam como garantia para empréstimos?
Outro ponto é a suposta qualidade intrínseca desses artigos. No entanto, é importante manter a sinceridade a esse respeito. O modelo de negócios do luxo é notavelmente genial, precisamente porque os custos unitários de produção são baixos, em comparação com os preços de varejo.
Portanto, é essencial reconhecer honestamente que a Europa tem sido hábil em comercializar produtos de luxo ao redor do mundo, resultando em lucros significativos. Isso mostra que o velho continente ainda possui uma atratividade considerável, seja no setor do turismo, luxo ou mesmo no futebol, conquistando estrangeiros de forma altamente rentável. A ideia de que a Europa é apenas um parque de diversões, sem capacidade de ser uma máquina de fazer dinheiro duradoura, é um equívoco.
Fonte: Folha Ilustrada.
Receba tudo que mais importa na publicidade e marketing digital
Garanta na sua caixa de entrada toda segunda de manhã as principais notícias, análises e estudos do mercado, com cases de sucesso, campanhas e opiniões de especialistas. Assine a melhor newsletter de marketing: BRING ME DATA.