O match de uma mulher da ZL de São Paulo no Bumble
O acidental leitor(a) dessa coluna já se deparou com o assunto dos aplicativos de “encontros casuais propositais”. Fica a recomendação da leitura do artigo anterior sobre o tema. As meninas da Macfor indicaram, novamente de forma provocadora, um artigo genitor que discorre a respeito de um aplicativo em específico: o Bumble.
Por jamurka
Não para falar de suas funcionalidades e ou desempenho mercadológico, mas para que esse velho professor de marketing rabugento comentasse a respeito da escolha de Lidiane Jones como a nova CEO da plataforma.
À primeira vista, confesso que considerei a possibilidade de que tal provocação fosse uma revanche às sugestões dos artigos anteriores, em que mencionei que amava discorrer sobre carros e futebol. Elas não perdoam. Entretanto, mal sabem elas a respeito de uma outra paixão existente nesse ser “escrevinhador” nascida antes mesmo dele saber o que era um carro ou a prática do futebol: a ZL.
Aos acidentais “não paulistanos”, é preciso esclarecer que a Zona Leste da cidade de São Paulo é um lugar de cultura própria. A única região da cidade em que seus “povos originários” jamais deixarão de mencionar e defender (do nosso jeito, se for preciso) com orgulho e paixão ao longo de sua vida.
Você pode até deixar a ZL, mas a ZL jamais deixará de estar em você. Essa é a nossa máxima. O orgulho e a paixão ganham gradativamente mais força durante sua vida quando, em inúmeros momentos, sua origem é associada a lugares longínquos e de baixíssimo grau de evolução humana. Algo que serve para nos deixar ainda mais fortes e impetuosos.
A nova CEO do Bumble é uma mulher da ZL
Pois bem, a nova CEO do Bumble é uma mulher da ZL! Minha evolução humana não permitirá fazer uso de uma expressão tipicamente zonalesteana a respeito dessa notícia. Mas seria algo associado a aquilo que se faz com um pirulito ou um “sacolé”.
Lidiane Jones é a atual CEO de uma plataforma de comunicação corporativa chamada Slack, pertencente à famosa Salesforce, onde chegou em 2019. Antes disso, Lili, como certamente deveria ser conhecida na ZL, passou pela Apple, Microsoft e Sonos. Uma mulher paulistana com essa carreira de sucesso só poderia ter nascido na “zona lost”.
O Bumble foi criado por uma mulher, que também foi cofundadora do Tinder, o aplicativo líder em encontros e desencontros. Algo chama a atenção nesse fato, mas isso é assunto para outra coluna. Como citado no artigo anterior a respeito da indústria de aplicativos, cada novo “player não pioneiro” tenta ocupar um espaço na mente do possível usuário de forma a ser reconhecido como único.
Não se trata necessariamente de ser 100% diferenciado, mas de se buscar uma diferenciação que seja contundente.
No caso do Bumble, isso ocorre em função de sua proposta original relacionada ser um espaço de encontros online “empoderador” para mulheres. Isso se reflete, na prática, por exemplo, no momento “pós-match”, em que apenas as usuárias podem tomar a iniciativa para abertura da conversação. Acredito que, depois disso, tudo deve rolar da mesma forma que no Tinder.
O desafio estratégico é a ocupação do espaço na mente dos usuários para se tornar o aplicativo de preferência. Muitas são as opções, cada uma tentando ocupar seu espaço distinto, o que leva a ofertas com os mais variados preços e públicos específicos em função da renda, idade ou gênero, dentre outros.
E sim, existem outros critérios de segmentação além desses. E caso você decida ser uma assinante de algumas plataformas desse tipo, isso vai implicar em gasto mensal considerável.
Uma coisa é certa, a origem do sucesso de todas as plataformas pode se resumir em duas palavras: solidão e carência. Como sempre digo aos meus amados alunos cabeçudos: “Não desprezem nem reclamem de estudar as disciplinas das ciências humanas. Acredite, você estará estudando mais marketing do que você imagina.”
Lili terá alguns bons desafios pela frente. A pandemia serviu para que novos hábitos fossem intensificados durante sua vigência, o que levou, em muitos casos, a “embriaguez” de consumo de alguns produtos e serviços. A “ressaca” veio forte no pós-pandemia, onde alguns hábitos tiveram forte redução de intensidade.
Esse humilde professor da ZL, em um trabalho de consultoria realizado para uma grande fabricante de bebidas, no início de 2020, arriscou a dizer: “alguns hábitos serão como elásticos nesse período, se esticando ao máximo. No pós-pandemia, alguns voltarão à posição original, outros já estarão rompidos e alguns serão deformados, para mais ou para menos.”
Não se trata de futurismo, longe disso, mas da leitura de um texto magnífico sobre a “história antropológica” das pandemias mundiais ao longo da história.
No caso do Bumble, bem como das outras plataformas, a ressaca é forte, segundo pesquisa realizada pelo Match Group, dono do Tinder. A solução “isotônica” pode ocorrer por meio da tecnologia, onde a IA pode agora ajudar seus usuários, principalmente os masculinos, a incrementar seus flertes e cantadas, algo dispensável aos homens criados na ZL da metrópole paulistana.
Além disso, cabe ao Bumble cada vez mais ser reconhecido como o aplicativo das mulheres, que valoriza como nenhuma outra plataforma a “igualdade, a integridade e a gentileza”, segundo sua nova CEO. Há de se ficar atento, visto que tentativa semelhante ocorreu com aplicativos de mobilidade urbana, o que não deu muito certo.
O desafio real e concreto está no fato de que, no dia do anúncio da CEO, as ações do Bumble fecharam o dia em queda de 4,39%. Desde seu primeiro IPO na Nasdaq, em 2021, o valor de seus papéis acumulam queda de cerca de 80%. Seu valor de mercado atual é de US$2,4 bilhões.
O alento vem do segundo trimestre desse ano, onde o Bumble registrou receita de US$259,7 milhões, uma alta de 19% em relação ao mesmo período do ano anterior. Uma boa notícia, a princípio. Mas sempre é bom lembrar que o que vale mesmo é a rentabilidade, quer seja em Wall Street, quer seja em qualquer bairro da zona leste de São Paulo.
Toda sorte do mundo a Lili!
#tamojuntoemisturado
Ricardo Poli é professor, palestrante, provocador, piadista e colunista da BRING ME DATA.
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As opiniões aqui contidas são de responsabilidade de seu autor e não refletem necessariamente a opinião da Bring Me Data e do blog da Macfor.