McDonald´s ainda contaminado pelo Covid
A lembrança astuta do acidental leitor dessa coluna é capaz de recordá-lo que esse velho professor de marketing rabugento é crítico aos futurólogos mercadológicos de plantão. Chutar o que vai acontecer no futuro para depois dizer, “eu avisei”, se tornou uma grande casa de apostas cujo prêmio principal é o regozijo da vaidade.
Seria uma imprudência desse colunista dizer que de nada adianta tentar prever o futuro, afinal, em qualquer processo de planejamento de marketing existe uma etapa denominada “prognóstico”.
Como sempre disse para meus queridos alunos, é a etapa onde se distinguem meninos de homens ou meninas de mulheres. Analisar e diagnosticar o que aconteceu no passado e o que está acontecendo no presente não é algo tão complexo, ainda que poucos saibam fazê-lo a contento.
Mas saber configurar cenários futuros é para poucos.
A consideração introdutória se fez oportuna por conta da sugestão de leitura das meninas da Macfor para confecção dessa coluna, uma matéria da CNN Business dos EUA a respeito do McDonald´s.
Vale a leitura, ainda que o contexto mercadológico seja algo específico do que acontece por lá, mas não por aqui. Isso porque aponta como mudança emblemática do que está acontecendo por lá, a forma de consumo “tradicional” de refrigerantes nas lojas, o self-service, algo nunca presente nas lojas tupiniquins.
Levando-se em conta o contexto, se trata de uma mudança e tanto, que deve ter sido motivada por algo que se mostrou mais do que necessário. Nesse caso, a mudança do comportamento humano que fez com que o consumo dos produtos da famosa rede de fastfood aumentasse significativamente por meio dos serviços de drive-thru e delivery.
Isso levou a rede a repensar o tamanho de suas lojas, que tendem a ser muito menores daqui em diante, fazendo com que as máquinas de self-service de refrigerantes começassem a se tornar menos uteis “estrategicamente”.
A matéria descreve algo que chegou a surpreender esse professor a ponto de ele anotar em sua mente como algo a ser comentado nas aulas da semana que vem: “as vendas digitais representam, hoje, 40% das vendas totais do McDonald´s na terra do Tio Sam.”
Uau! Realmente, o mundo está mudado!
Tal mudança teve como principal motivador a recente pandemia do coronavírus, que obrigou consumidores finais a adquirirem novos hábitos ou a intensificar alguns já existentes. Obviamente, um dos hábitos mais “habituais” de um ser humano é o de se alimentar.
E como alertam os neurocientistas, uma mudança significativa de vida, para o bem ou para o mal, ocorre quando uma prática eventual se torna um hábito. Em outras palavras, as pessoas se acostumam…
Como se pode constatar, uma mudança de hábito no comportamento de consumo é capaz de mover várias montanhas de uma corporação.
O McDonald´s chegou a prever que isso fosse “naturalmente” acontecer? Não, de forma alguma chegou perto disso. A questão é: “Teria sido possível prever tal fenômeno?” Não, de forma alguma. Alguns ousados caçadores de tendência metidos a professor diriam nessa hora: “É óbvio que isso aconteceria!” Algo que eu comentaria com: “é fácil prever o passado…”
Depois que tudo acontece, tudo parece lógico e previsível. É algo típico dos gurus futurologistas. Eles vão começar a aparecer mais nas redes sociais a partir de novembro.
Um verdadeiro prognóstico não se arrisca a ser preciso, mas alerta sobre as possibilidades de algo que vai ocorrer. Isso me fez ter um “deja vú” de um projeto de consultoria que elaborei para AMBEV logo no início da pandemia. As primeiras reuniões foram presenciais, mas por pouco tempo.
O projeto, que tratava sobre uma nova unidade de negócios relacionada a eventos, tomou um balde de água fria, mas não a ponto de congelá-lo.
Em seu prognóstico, nada de futurologia de palco, mas a previsão de que muitos hábitos de consumo teriam grandes chances de mudar, em maior ou menor grau. Ficou a recomendação para que se ficasse atento a eles. Obviamente, não posso dizer aqui quais foram eles.
Alguns se concretizaram para além do que se imaginou, outros para menos. O mais importante para um bom diagnóstico: saber quais são “eles”, muito mais do que fazer previsões mirabolantes que nunca aconteceram. E foram centenas delas, acredite.
Ricardo Poli é professor, palestrante, provocador, piadista e colunista da BRING ME DATA.
Cadastre-se para receber a BRING ME DATA toda segunda para não perder as principais novidades e tendências do mercado com opiniões de grandes especialistas.
As opiniões aqui contidas são de responsabilidade de seu autor e não refletem necessariamente a opinião da Bring Me Data e do blog da Macfor.