O óculos de RV da Apple tem a visão embaçada?
É possível agradar a todos? Quando isso acontece, algo está errado. Até mesmo para Apple. O recente lançamento de seus “óculos headset de realidade virtual/aumentada” (RA/RV), o Vision Pro, pode ser um exemplo emblemático disso.
Por seventyfourimages/envato
O recente artigo da Fast Company Brasil faz uma reflexão interessante nesse sentido. Mas, como não poderia deixar de ser, esse velho professor enxerga a coisa de uma forma um pouco diferente, ainda que o faça sem o uso da mais antiga ferramenta tecnológica de interface humana (o bom e velho óculos de grau).
Se faz desnecessário aqui repetir ou resgatar a história da Apple. Caso fosse um trabalho escolar, seria algo como “enrolação ou encheção de linguiça”.
A questão principal vem do fato de que a Apple, como já dito aqui no artigo que comentava a respeito da questão de sua IA, quase nunca foi conhecida por ser a primeira em relação à introdução de uma nova categoria de produto para o mercado.
Os smartphones já existiam, os smartwatch´s já existiam e os tocadores de música digital já existiam quando do lançamento de seus respectivos produtos dessas categorias.
Isso pode ser encarado como uma estratégia proposital que combina o entendimento da demanda por determinada categoria de produto em combinação com o investimento dedicado a P&D por seus concorrentes.
Em outras palavras, fica-se no aguardo daquilo que a concorrência desenvolve, aguarda-se pela aceitação de um produto que não existia pelo mercado e aproveita-se disso para lançar um produto mais ‘bonitinho e funcional”.
Afinal, já se sabe, a essa altura, o que pode agradar ainda mais os usuários e, com absoluta certeza, aquilo que ainda precisa ser evoluído.
Nesse contexto, a Apple sabe que existe um longo caminho a ser percorrido em termos do que pode ser feito em termos de atributos e benefícios de um produto, ainda que não se saiba exatamente o quê.
Tal argumento estratégico já foi utilizado várias por esse professor para justificar sua aposta de que jamais a empresa da maça lançaria uma smartTV, ainda mais com os concorrentes já existentes nesse ramo.
Com os ditos óculos virtuais, algo diferente deve ser levado em conta. Para além da execução da estratégia descrita, o que se configurou foi o fato de que o mundo (concorrentes e usuários), em função de um contexto que não vale ser descrito aqui, passou a “exigir” da Apple um produto dessa categoria.
Não lançar um headset de RA/RV poderia arranhar, em parte ou no todo, a imagem institucional dessa empresa, que não poderia ser mais tão associada a inovação tecnológica. Uma armadilha criada por ela mesma em função de sua forma de atuação. Alguns analistas futuristas frustrados (quase um pleonasmo) diriam: “Parou no tempo!”
Análises de atributos e benefícios do Vision Pro, política de preços, comparativos com produtos já existentes, opiniões de especialistas já devem existir aos montes em blog´s, sites, post´s e afins.
Espero que pelo menos alguém (ficarei ainda mais feliz se for um ex-aluno) tenha se atentado a uma questão simples e nevrálgica em relação a esse contexto
Pense comigo. O que há de comum entre um iPod, um iPhone, um Apple Watch e um MAC? Além do desenho da maça mordida, obviamente! Tratam-se de produtos esteticamente agradáveis de uso diário e fácil, depois que você pega o jeito.
Produtos que as pessoas usam intensamente, em maior e menor grau, visto que passam a ser incorporados a seu cotidiano em função de um conjunto de necessidades. No caso da Apple, para além disso, em função de um conjunto de desejos conhecidos e desconhecidos.
Acreditem, ainda se comercializam iPhones dos modelos 5, 6 e 7. E muito. A capacidade dessa empresa em criar desejos faz com que inúmeras pessoas, dos mais variados tipos e classes econômicas, caiam na tentação da maça. É admirável sob o ponto de vista de marketing.
Isso posto, ouso perguntar: “Vale o mesmo para o óculos virtual? O que a realidade do contexto de consumo de tal categoria nos diz a respeito disso?” Fica a provocação.
Quantos de vocês, acidentais leitores dessa coluna, fazem o uso contínuo dos óculos 3D que vieram junto com sua última aquisição de smartTV? Será mesmo que o Vision Pro é um produto semelhante a todos os já lançados anteriormente em função das necessidades básicas de uso cotidiano?
Me parece ser o lançamento do primeiro produto de “diversão” da Apple, muito mais do que algo que você usa para pagar a conta do café na padaria ou para combater o stress de um dia difícil por meio de uma boa música.
Diante disso, é bom lembrar: criar desejos é mais do que fundamental em termos de marketing, mas deve ser feito sem que haja rupturas com a necessidades que estão atrelados.
Ricardo Poli é professor, palestrante, provocador, piadista e colunista da BRING ME DATA.
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As opiniões aqui contidas são de responsabilidade de seu autor e não refletem necessariamente a opinião da Bring Me Data e do blog da Macfor.
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