Quebra do SVB: a desgraça de uns pode ser a graça de outros
Leitores acidentais dessa coluna, bem como aqueles que jamais a lerão, certamente se depararam essa semana com a notícia da quebra dos bancos Signature Bank e Silicon Valley Bank nos Estados Unidos, fato comentado até mesmo pelo simpático (e preocupado) chapeiro da padaria frequentada diariamente por esse professor.
Entre o Vale do Silício e o bairro da Vila Mariana, certamente, tal ocorrido fez muitas paradas em estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços dos mais variados tipos. O argumento imediato sacado rapidamente da mente desse que vos escreve diante da indagação do responsável pela confecção de seu sanduíche foi: “Sabe quantos bancos existem nos Estados Unidos? Por volta de 350. Logo, dois a menos não vão fazer muita diferença.”
Obviamente, uma resposta primorosa pela rapidez e grandiosa pela estupidez, diante do fato do Silicon Valley ser o 16º maior banco daquele país. Trata-se de um acontecimento complexo de ser compreendido à primeira vista, caso não se tenha conhecimento mínimo a respeito da dinâmica do universo financeiro e do contexto mercadológico inerente às startup´s do referido vale.
Apelando para o reducionismo, sem levar em conta os motivos da quebradeira, sabe-se que muitas empresas caracterizadas como startup´s ofertantes de serviços relacionados a processos ligados a propaganda e publicidade digitais – martech´s, adtech´s e empresas de mídia – podem e poderão ser duramente impactadas em seus negócios em função do ocorrido.
Tal impacto vem implicando na adoção de critérios mais rigorosos por parte de investidores na escolha desses tipos de empresa para realização de financiamentos. Na prática, vem se intensificando a substituição do critério “taxa de crescimento” pelo critério “nível de lucratividade” como principal métrica de seleção para seus investimentos. Bem-vindas à realidade, startup´s!
Outro impacto significativo ocorre em função das empresas detentoras de grandes marcas de bens de consumo passarem a contratar essas startup´s em função de um nível de consolidação e maturidade já alcançados, o que, em combinação com o fenômeno anterior, dificulta ainda mais o crescimento nas micro e pequenas empresas desse tipo.
É importante destacar que os órgãos reguladores do sistema financeiro americano responderam rapidamente à calamidade, certificando que todos os depósitos presentes em tais bancos estarão garantidos, o que também garantiu que a operação de tais empresas pudessem continuar sem grandes problemas.
Ironicamente, as consequências desse furdunço no sistema bancário dos Estados Unidos pode acarretar na redução da taxa Selic aqui no Brasil, visto que se configura como um “fato novo” propulsor para tal medida, cujos desdobramentos poderão ser percebidos por muitos com uma graça alcançada, tal qual o sanduíche devorado por esse professor na padaria da Vila Mariana.
Ricardo Poli é professor, palestrante, provocador, piadista e colunista da BRING ME DATA.
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As opiniões aqui contidas são de responsabilidade de seu autor e não refletem necessariamente a opinião da Bring Me Data e do blog da Macfor.