Quem é Taylor Swift?
O título acima é “ipsis litteris” a pergunta que fiz para as meninas da Macfor quando me enviaram o artigo da revista Rolling Stone para ser genitor da coluna dessa semana. Como os acidentais leitores podem facilmente perceber, fica estampada uma resposta típica de um velho professor de marketing rabugento.
Por Pressmaster/envato
Algum aluno mais “espirituoso” me diria em sala de aula: “Não acredito! Como assim você não conhece a Taylor Swift, Poli! Você precisa se atualizar! Afinal, você é um professor de marketing.” Depois de pensar em mandar o espirituoso se retirar da sala de aula, ou sumariamente reprová-lo, responderia: “Bach, Vivaldi e Beethoven criaram obras-primas para a música que são ouvidas e tocadas até hoje, mais de 100 anos depois. Já ouviu falar deles? Quero ver essa cantora com nome de marca de linguiça daqui há 10 anos.”
Obviamente, não haveria coragem para emissão de uma tréplica depois de uma resposta tão carinhosa como essa.
Nada contra a referida artista, obviamente. Em termos mercadológicos, um fenômeno de sucesso admirável, muito por conta da realidade que vivemos atualmente em termos de redes sociais.
E sim, eu fui “estudar” quem é a Taylor.
Fico imaginando aqui se os três citados imortais da música clássica tivessem nascido em tempos atuais. Suas obras são eternas sem que eles nunca tivessem feito um “postzinho” no Instagram. Já pensou se isso pudesse ter acontecido?
Ouso pensar que jamais o fariam, visto que suas criações são, efetivamente, algo que pode ser concebido como arte. No outro caso, um mero produto a ser consumido por um certo tempo. Isso porque a intenção original da criação é diametralmente oposta em cada um desses casos.
Os atuais famosos “artistas” fenômenos de bilheteria (e de redes sociais) têm suas trajetórias, mais do que nunca, pensadas e administradas como um produto (ou serviço) que precisa agradar a maior quantidade de pessoas possível, ser lucrativo e durar para além do que se pode imaginar.
Vale dizer que não se trata de uma novidade. Quando a internet ainda não existia, esse processo era muito bem gerenciado pelas gravadoras, que escolhiam o “artista bola da vez” como o próximo produto a ser lançado. A partir daí, administravam de forma muito eficiente a intersecção entre aquilo que o “artista” deveria ser publicamente e aquilo que alimentava a curiosidade e os anseios de seu público.
E isso nada tem a ver com a qualidade da obra produzida, que fique claro. Esse processo serviu tanto para os Beatles quanto para o Sidney Magal. Afinal, como sempre digo para meus alunos: “Se um produto existe e vende, é porque ele atende a um conjunto de desejos e necessidades. O processo de marketing não questiona desejos e necessidades, ele entende e atende.”
Para tanto, basta estar atento ao que acontece no mundo. No caso da Taylor e de outros tantos, vale entender a questão sociológica em paralelo com a questão tecnológica ligada às redes sociais. Dois aspectos indissociáveis.
Não vou me arriscar aqui a analisar se a evolução tecnológica foi responsável pela mudança de aspectos socioculturais de consumo ou se eles já existiam desde sempre e foram potencializados por conta do “momento tecnológico” atual.
A sensatez de marketing obriga a tratá-los como um só fenômeno.
O fato concreto é que o consumo de música (e seus derivados) sofreu profunda transformação por conta da tecnologia ligada à internet.
Em outras palavras, não são mais as gravadoras que ditam o ritmo dos sucessos musicais. Consumidores de música são agora consumidores de “artistas”, de tudo que eles falam, vestem, comem. Podem, como nunca antes, interagir diretamente com eles e, até mesmo, consumir aquilo que eles produzem musicalmente. Essa é a nova realidade.
E se por algum acaso do destino um desses “artistas” aparecer numa foto viralizada comendo um pedaço de frango frito temperado com algo que pareça ser um ketchup, uma marca pode se aproveitar disso como uma “ocasião relevante” para potencialização de seu awareness.
Assim fez a Heinz por meio da edição limitada de 100 unidades de seu “ketchup e aparentemente ranch”. E por mais inacreditável que possa parecer, não se trata de um novo produto, mas somente de uma mudança de embalagem. Uma bela ação de “remora” mercadológica.
Ouso arriscar que alguns compradores irão guardar o respectivo produto por uma ou duas décadas apostando vendê-lo em um leilão por um preço (em dólar) de sete dígitos. Alguém irá comprá-lo, pode ter certeza. Na recepção do evento, alguns músicos desconhecidos tocarão músicas de Bach, Vivaldi ou Beethoven.
Ricardo Poli é professor, palestrante, provocador, piadista e colunista da BRING ME DATA.
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As opiniões aqui contidas são de responsabilidade de seu autor e não refletem necessariamente a opinião da Bring Me Data e do blog da Macfor.