A pauta sugerida pelas poderosas meninas da Macfor para essa semana é um deleite. Não pelo fato da empresa objeto das “reportagens briefing” enviadas por elas, mas pela comprovação de uma ideia já defendida aqui em colunas passadas. Tudo gira em torno do sol e de uma questão: “Empresas, ao desenvolver produtos, serviços ou soluções, estão a serviço da tecnologia ou a existência de novos recursos tecnológicos potencializa a existência, ou a evolução, de novos produtos, serviços ou soluções?”
O acidental leitor(a) já sabe a resposta desse escrevinhador metido a colunista. A rabugice que insiste estar impregnada na mente desse velho professor de marketing o leva a crer que, em muitos casos, o uso da tecnologia parecer ser muito mais uma questão de modismo do que de potencialização de processos de marketing. Recursos tecnológicos inéditos são utilizados como ofertas com o intuito de caracterizá-las como à “frente do seu tempo”.
Nada contra o uso de tais recursos, desde que não se tornem o centro do universo das ofertas. Entretanto, o que me parece, em muitos casos, é o que o uso de recursos tecnológicos se sobrepõe à razão existencial de uma oferta. Ironicamente, denominam isso de marketing, ou pior ainda, de “inovação”. Os alicerces do “bom e velho marketing” são traídos em nome do potencial de repercussão midiática que o uso de um determinado recurso tecnológico pode trazer. Seria como tentar fazer parecer que o sol gira em torno da Terra.
Um, dentre tantos exemplos, é o da Amazon em relação a sua atuação no varejo físico, por meio de sua rede de lojas de conveniência Amazon Go ou da Fresh, algo como uma rede de supermercados de porte médio. Em tempo: pertence ao mesmo grupo a Whole Foods, uma típica rede de supermercados focada na oferta de produtos orgânicos.
Inaugurada há cerca de dois anos, a Fresh chamou a atenção em função de ser um supermercado sem “caixas”, o que é viabilizado pelo uso de um carrinho moderninho com inteligência artificial, o chamado “Dash Cart”. Na Amazon Go, inaugurada nos idos de 2015, o sistema é o “Just Walk Out“, que elimina os “caixas” por meio da utilização de câmeras e sensores para monitoração dos itens comprados.
Pois bem, recentemente, a Amazon informou que está eliminando a tecnologia do “Just Walk Out“, que também está presente em mais da metade da rede Fresh. O motivo? A viabilidade do sistema só se comprovou eficaz por meio do uso de mais de 1.000 “zequinhas” indianos responsáveis por assistir e etiquetar vídeos transmitidos diretamente por cada uma das lojas e, assim, garantir o processamento correto das compras.
Mais fácil e viável economicamente ter caixas simpáticos nas lojas, não?
A remediação será por meio da utilização dos “supercarrinhos” nas lojas da rede Go. A nave espacial da Amazon possui tela touch screen, sensores nas bordas para identificação do que adentra a ele e uma balança para aquisição de produtos vendidos a peso. A pergunta rabugenta é: carrinho de supermercado em loja de conveniência? Além dessa, uma outra: “Pra que tanta tecnologia se tudo pode fluir muito bem com seres humanos?
Se a Amazon decidiu entrar no setor de supermercado (e afins) para confrontar Walmart, Costco ou Kroger nos EUA, vai muito mal. Há de se aprender muito com eles, afinal, estão nessa estrada há muito mais tempo.
A oferta é o centro de tudo. Nesse tipo de varejo, nunca deve deixar de ser simples, de custo viável e humana.
A Terra ainda continua girando em torno do Sol.
Ricardo Poli é professor, palestrante, provocador, piadista e colunista da BRING ME DATA.
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As opiniões aqui contidas são de responsabilidade de seu autor e não refletem necessariamente a opinião da Bring Me Data e do blog da Macfor.