Tik Tok, Tik Tok, Tik Tok: uma questão de tempo.
Muito se descobre por acidente nessa vida. Torço diariamente para que essa máxima seja verdadeira e que, por conta disso, mais leitores entrem em contato com essa coluna, provando seu sabor, mais amargo do que doce, mas nunca insosso.
E se tal máxima for realmente verdadeira, é lógico pensar que quanto maior for o tempo de uma existência, maior será a quantidade de descobertas acidentais adquiridas ao longo de sua trajetória, caso se esteja disposto a isso. Então, imaginemos uma existência com mais de 5.000 anos e que, desde seus primórdios, sempre esteve à disposição do inusitado. Quanto mais o tempo passa, mais se aprende com ele e menos se depende dele.
Nesse momento, o acidental leitor já descobriu que me refiro à China, porém, mais à civilização do que ao país. Uma civilização responsável pela existência, acidental ou não, do papel, da tinta, da impressão em papel, do papel-moeda, da pólvora, do macarrão, do sorvete, das velas do barco, da bússola, da escova de dentes, da seda, do garfo, dos sinos, do carrinho de mão (aquele mesmo do pedreiro), da pipa, do sismógrafo, dos fogos de artifício, do dominó, do ábaco, dos jogos de carta, dos números negativos (que sempre me aporrinham), do go (aquele jogo de pedras pretas e brancas), da câmera pinhole (coisas da fotografia), do cardápio, do estribo, do papel higiênico, das primeiras bebidas alcóolicas fermentadas e destiladas (ufa!), e do paraquedas.
Ainda assim, tenho absoluta certeza de que algum educado aluno de origem chinesa vai me lembrar, em breve, de que esqueci de alguma coisa. Fica a curiosidade em saber se o garfo surgiu por conta do macarrão ou vice-versa.
Pois bem, há de se respeitar, e não subestimar, quem possui mais de 5.000 anos de história. Muito se aprende nesse tempo de vida e muito se erra nesse tempo de vida. A maior evidência disso está no fato da China já ter sido a maior economia do mundo em vários momentos da história, estando muito longe desse posto em outros vários momentos.
O que se armazena com tanto de existência? Sabedoria, se estiver disposto a isso. A sabedoria que leva a invenção e reinvenção das coisas. E a reinvenção pode ser simplesmente a execução da estratégia de marketing mais antiga do mundo: copiar, imitar e/ou adaptar. Em outras palavras, e em favor da nostalgia de minhas aulas de marketing e estratégia, a velha e boa curva de experiência.
Sei que a menção a esses dois conceitos pode causar arrepios em alguns ex-alunos, mas servem aqui para justificar o fenômeno Tik Tok. Ele já vale mais que o Facebook, US$65,7 bilhões, já conta com mais de um bilhão de usuários ativos mensalmente e já é o aplicativo mais baixado do mundo.
Tamanho crescimento é também responsabilidade de seu CEO, Shou Zi Chew, que foi aluno de Economia na UCL (University College London), graduado em Engenharia pela Universidade de Michigan e pós-graduado (MBA) na Harvard Business School. Antes de seu atual posto de CEO, Chew foi diretor financeiro da Xiaomi. Antes disso, estagiário do Goldmans Sachs. E, muito antes disso, estagiário do Facebook. A descrição de seu curriculum por esse vos escreve é somente um lembrete para alguns seres digitais que vendem a ideia de que “fazer faculdade” é uma coisa ultrapassada.
Passada a vingança, vale lembrar que, diante da interpelação sobre segurança, privacidade e manipulação de dados, da Câmara dos Representantes no país da liberdade, Chew respondeu: “Quem nunca?”. Obviamente, um lembrete aos membros da comissão em relação às outras grandes redes sociais já existentes.
Conclusão: é bom respeitar o tempo de quem possui mais de 5000 anos de história e nunca se esquecer que alguém pode reinventar o que você está fazendo e superar você. Até mesmo, o estagiário.
icardo Poli é professor, palestrante, provocador, piadista e colunista da BRING ME DATA.
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As opiniões aqui contidas são de responsabilidade de seu autor e não refletem necessariamente a opinião da Bring Me Data e do blog da Macfor.