Taylor Swift: muito dinheiro, pouca ousadia
Novamente, Taylor Swift virou sugestão de pauta para esse escrevinhador metido a colunista. As meninas da Macfor realmente são fãs desse fenômeno mundial. Por conta disso, adoram provocar o velho professor de marketing rabugento que nunca ouviu uma música da cantora com nome de marca de linguiça. Sem se abalar diante de tal provocação, o melhor a fazer é se ater aos fatos.
Por ashishk75/envato
Vale ressaltar, logo de cara, que a análise que se faz aqui tem como viés uma questão mercadológica. Nesse sentido, pode-se afirmar que a “artista” é um fenômeno admirável de marketing. No auge de seus 33 anos, a menina tem ganhos financeiros que superam qualquer jogador de futebol ou artista de cinema do planeta, o que fez com que entrasse na lista de bilionários da Forbes, com uma fortuna avaliada em US$1,1 bilhão.
Sua turnê de seis apresentações no Brasil deve movimentar cerca de R$400 milhões para indústria de turismo, segundo a SPTuris. Sua turnê mundial, The Eras Tour, movimentou cerca de US$4,6 bilhões para economia em solo americano (com 53 shows realizados) e deve gerar receita na ordem de US$2,0 bilhões ao redor do mundo.
No Brasil e Argentina, foram 560 mil ingressos vendidos, ainda com muita gente a ver navios, ou ouvindo o show do lado de fora das arenas. Tudo isso permitiu, segundo o Financial Times, que Taylor pagasse para sua equipe cerca R$270 milhões em bônus. Acredito que poucos grandes bancos e corretoras financeiras no mundo cheguem a essa cifra.
“Números não mentem”, você já deve ter ouvido isso de um membro de sua família, geralmente alguém que pertence a duas gerações anteriores a sua. De fato, uma verdade incontestável. Números não mentem, mas os números não dizem tudo, por vezes, dizem muito pouco.
Swift é um fenômeno mercadológico, os números provam isso. Um baita produto, mas longe de ser uma artista na concepção original da palavra. Nada de errado existe nisso, que fique claro. Afinal, seus espetáculos atendem desejos em escala invejável a qualquer professor universitário que tenta fazer de sua aula algo minimamente atrativo, mas que geralmente não agrada nem 10% dos 50 alunos presentes em sala de aula. Há de se respeitar a moça.
Entretanto, professores, como esse que aqui escreve, jamais impediriam que alguém frequentasse sua aula com uma garrafa que acabou de ser preenchida com água de um bebedouro localizado na esquina ao final do corredor. E professores, como esse que aqui escreve, jamais deixariam de desopilar críticas severas caso qualquer um de seus alunos fosse impedido de fazê-lo, ou que fossem obrigados a ter que comprar o referido produto na cantina da faculdade.
Sim, a pequena Swift perdeu uma grande oportunidade de revelar uma face mais humana de sua personalidade. Não bastava cancelar o show. E, talvez, isso nem precisasse ser feito. O show poderia ter sido realizado com uma homenagem explícita à fã que já não estava mais ali presente. Além disso, Taylor poderia ter obrigado a organização do show (pavorosa e irresponsável) a disponibilização do precioso líquido de forma gratuita ou que permitisse o acesso com a posse do mesmo.
Se assim o fizesse, sua “imagem de marca” ganharia pontos valiosos o que, com certeza, faria como que muitos outros shows viessem a acontecer no futuro ou shows com ingressos ainda mais caros. Imagine ainda se Swift tivesse exercido a sensibilidade de “bancar” o translado funerário e a cerimônia do velório da fã que deu a vida para assistir seu show. Teria sido uma bela ação de relações públicas. Orçamento existia para isso.
Agir dessa forma seria agir como um ser subversivo, pouco preocupado com questões contratuais.
Um professor perderia seu emprego por conta disso.
Uma “artista” se tonaria, ainda mais, um fenômeno admirável de marketing.
.Ricardo Poli é professor, palestrante, provocador, piadista e colunista da BRING ME DATA.
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As opiniões aqui contidas são de responsabilidade de seu autor e não refletem necessariamente a opinião da Bring Me Data e do blog da Macfor.