O Twitter e o X da questão
Com toda certeza que possa existir no universo e para além dele, muitos colunistas presentes nesse planeta já fizeram o mesmo trocadilho metafórico de linguagem do título do devaneio semanal desse velho professor de marketing rabugento. Confesso que havia pensado em algo muito mais “filosófico”.
Entretanto, fui orientado pelas meninas da Macfor a escrever títulos que fossem mais “palatáveis e apetitosos” em termos da lógica intrínseca das redes sociais. Dessa forma, essa coluna pode ter mais chances acidentais de aparecer à frente de alguém (palatável) e, quem sabe, até mesmo ser lida por essa pessoa (apetitoso). O primeiro desafio foi alcançado, já o segundo…
Coisas da chamada “performance digital”. E como elas são feras nessa coisa que eu não estou nem um pouco a fim de entender, somente aceito. E, por serem mulheres, eu obedeço, ou deixo transparecer que assim seja, como faço com qualquer mulher em relação a questões que não consigo entender. Nada mais do que um artifício de marketing pessoal. Nesse caso, marketing de sobrevivência. Adoro todas elas.
Isso posto, a onda da semana, mais uma vez, gira em torno de Elon Musk. Os acidentais leitores dessa coluna já se depararam com essa figura em outros devaneios anteriores. É incrível e admirável o potencial midiático do referido executivo. “Falem mal ou falem bem, que falem de mim.”
Ele é a comprovação atual desse velho ditado. E a dita “polêmica” dessa vez, tão necessária para sobrevivência dos colunistas de internet, é a mudança de nome do Twitter. Se é que se trata somente disso.
Novamente, me vem à mente o desafio de não falar mais do mesmo. Nesse caso em específico, algo muito difícil. Antes de tudo, trata-se da troca de um elemento de marca, o dito cujo “naming”. Isso implica que a marca morreu? Em termos de “naming”, sim. Nos termos de sua presença no mundo, não. Entenda “mundo” como a mente das pessoas, pois esse é o planeta a ser conquistado pelas marcas todo santo dia.
Evidentemente, o “naming” seja, talvez, o elemento mais importante de marca, mas isso não quer dizer que ele represente tudo aquilo que uma marca é. Marca, antes de tudo, é um conjunto de ideias. Faço questão de repetir essa máxima, porque muitos profissionais de “marketing & branding” fazem questão de esquecer isso. Algo que chega a ser incrível.
O conjunto de ideais fundamentais associado ao Twitter mudou?
Nem preciso escrever a resposta de uma palavra aqui. O valor patrimonial da marca vai se tornar irrisório? A resposta a essa pergunta é o oposto da anterior. No entanto, por ser eminentemente intangível, tende a se recuperar com o tempo.
Afinal, estará estampada diante das pessoas usuárias do aplicativo todo santo dia. A velocidade de recuperação desse valor só dependerá da quantidade de investimentos a serem realizados com esse objetivo, levando em consideração que Musk não apronte mais uma das suas.
E tais investimentos podem objetivar, concomitantemente, a evolução do conjunto de significados da marca. Musk sabe que a nova marca pode ir muito além do que ser simplesmente um “aplicativo de recados para o mundo”. Ela tem potência para se tornar uma plataforma onde se possa fazer coisas que vão muito além dos recadinhos. Coisas que podem ser muito mais rentáveis do que “ser mídia” para outras marcas.
Nesse sentido, ouso afirmar que um novo “naming” vem bem a calhar, visto que o nome anterior estava indissociavelmente associado a um aplicativo e não a conceito de plataforma, como já conquistaram alguns de seus principais concorrentes.
Se desvencilhar de um estigma pode ser tão custoso, ou até mais caro, do que criar um estigma do zero.
Muitas vezes, é melhor demolir a casa do que tentar reformá-la. E se transformar numa plataforma, muito provavelmente, vai custar mais do que o valor que a marca Twitter atingiu em seu auge.
O acidental leitor percebeu, pelos dois parágrafos anteriores, que professores são especialistas em fazer previsões de coisas que já aconteceram. Coisa típica daqueles professores “cinquentões” descolados (literalmente) que dizem “eu teria feito diferente”, em relação aos casos de fracasso e “eu teria feito o mesmo”, para os casos de sucesso. Mas continuam sendo professores. E longe de ter o patrimônio de Elon. Certamente, uma distância que deve ser medida em anos-luz.
“Empresários existem para assumir riscos”. Aprendi esse conceito, bem como suas infinitas implicações derivativas, de um excelente empreendedor. Elon Musk está fazendo uma aposta. Ela vai custar muito em termos de tempo e dinheiro. Mas se trata de um apostador com muito crédito nesse cassino e que já ganhou muitas apostas em outros cassinos da região. A de se respeitar e ficar atento, pois pode-se aprender muito com isso tudo.
Vai dar certo? Sinceramente, não sei.
Não sou descolado, sou rabugento.
Ricardo Poli é professor, palestrante, provocador, piadista e colunista da BRING ME DATA.
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As opiniões aqui contidas são de responsabilidade de seu autor e não refletem necessariamente a opinião da Bring Me Data e do blog da Macfor.