Bill Gates e a mais nova atualização da Heineken
Mais uma vez o mundo dos negócios foi chacoalhado por Bill Gates. Agora, por conta da recente notícia, veiculada em primeira mão pela agência holandesa RTL News, da aquisição de 3,76% da empresa proprietária da cerveja Heineken.
Por mais surpreendente que possa parecer, não se trata de algo inédito na trajetória de um dos homens mais ricos do mundo. Em 2007, Bill comprou 3% da cervejaria mexicana FEMSA pela bagatela de US$392 milhões. Dessa vez, a conta foi um pouco mais alta, cerca de US$936 milhões.
Muitos poderiam imaginar que Gates já não dançava mais na pista do mundo dos negócios, mas que se dedicava somente a movimentos ritmados na pista de negócios para o mundo. Vacinas e mais vacinas, soluções tecnológicas para redução de emissão de metano na agropecuária, interação de tecnologia e cérebro humano, dentre outras tantas iniciativas por meio de grandes investimentos em startups.
Diante desse fato, fica inevitável o surgimento de algumas indagações estratégicas.
- Porque Bill decidiu fazer tal aquisição?
- Gates está enxergando algum fenômeno que os mortais ainda não conseguiram identificar?
A primeira tentação seria investigar o contexto relativo à taxa de crescimento do consumo de cerveja no mundo. Algo que qualquer estudante de marketing estratégico desse professor faria de imediato. Crescendo a taxas significativas ou decrescendo a taxas significativas, surgiria facilmente uma resposta que justificasse tal aquisição.
Pois bem, não se trata de nenhuma das duas situações, ou seja, não existe queda no consumo de tal categoria de produto no mundo, tão pouco um crescimento exorbitante. Cerca de 4% em 2021, quando comparado ao ano anterior.
Uma busca ingênua no Google traz, em poucos segundos, contextos onde taxas de consumo global de outras categorias crescem de forma muito superior. Estaria a HEINEKEN com a intenção de adquirir a FEMSA? Eis aí uma possibilidade de resposta com um bom grau de lógica estratégica, mas ainda com certo nível de incerteza.
A certeza exata é de que não é possível ter certeza.
Isso porque tal aquisição não é uma estratégia, mas a execução de uma estratégia. Em outras palavras, trata-se de uma ação do mais alto nível estratégico.
Afinal, a decisão pela aquisição de participações bilionárias em corporações não leva em consideração a opinião do estagiário de marketing, nem mesmo do VP mundial de marketing de uma empresa. Na verdade, a estratégia que levou a ação de tal aquisição está muito bem definida em algum relatório secreto guardado em algum dos cofres da mente de Bill Gates.
Estratégia, seja qual for o nível de importância ou complexidade, é algo que não se revela, como se constata na história das guerras desde os primórdios da humanidade. O que se mostra ao mundo, ou a seu inimigo, são ações, que servem como ilações para a descoberta das estratégias que as sustentam.
Estratégia é algo que tem nome, concepção e justificativa. Mas é algo que poucos têm ciência de sua existência.
Se tal notícia fosse objeto de uma prova de marketing estratégico, certamente alguns estudantes afirmariam que se trata de uma estratégia de integração horizontal ou de diversificação horizontal não-relacionada. Dependendo da justificativa, ambas teriam sido corretamente identificadas.
Mas vale lembrar que, por trás de uma estratégia, sempre existe um objetivo e, por trás dele, uma outra estratégia. E assim se caminha por caminhos cada vez mais nebulosos e pouco acessíveis.
Por fim, um típico aluno “não-oriental” da última fileira da sala de aula, que certamente teria errado a referida questão na prova, diria a esse professor: “Professor! Eu errei essa questão. Mas de uma coisa eu sei, vou tratar de comprar ações da HEINEKEN!”. Com toda certeza que possa existir no universo, ele acabou por decidir executar a estratégia de marketing mais antiga do mundo dos negócios. A mesma que Bill Gates executou no início da Microsoft. Mas isso é uma outra história.
Ricardo Poli é professor, palestrante, provocador, piadista e colunista da BRING ME DATA.
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As opiniões aqui contidas são de responsabilidade de seu autor e não refletem necessariamente a opinião do Bring Me Data.