Histórias sobre marcas, ou sobre o surgimento ou desaparecimento de produtos, mais particularmente os bens de consumo, nunca foram tão disseminadas como antes. Tudo ficou mais fácil, afinal, o meio de propagação propulsor para isso, as redes sociais, permitiu que tal fenômeno ocorresse com velocidade ilimitada. Além do meio, as fontes que fornecem matéria-prima para criação dessas histórias nunca estiveram tão acessíveis.
Por annazzhuk/Envato
E nem é preciso escrevê-las! A inteligência artificial pode fazer isso muito melhor do que a maioria dos gurus e influencers especializados em qualquer assunto. A dinâmica inerente a esse fenômeno é simples de entender. Com pequenas porções a respeito de uma história, encontradas nos mais variados brechós eletrônicos, criam-se “outras mesmas” histórias, mas agora num formato mais alinhado com as tendências de consumo da moda digital.
Em outras palavras, nada mais do que conteudistas (seja lá o que isso signifique) caçando ingredientes digitais para elaboração de drink´s que sempre existiram, mas que agora são visualmente atraentes, saborosos e sempre no formato de “shot”. Tal fenômeno existe, e não se restringe somente ao universo do marketing ou do mundo dos negócios. Ocorre o mesmo com a culinária, a geopolítica ou o futebol.
O que mais chama a atenção desse velho professor de marketing rabugento são as conclusões ou recomendações indicadas ao final dos pretensiosos vídeos de 60 segundos.
Nada contra a elaboração de histórias de um minuto. O problema é a proposital indução que seus criadores promovem de que o conteúdo ali exposto resume a história inteira de uma marca, do surgimento de um produto ou do fracasso do mesmo. Além da indução de que seus autores são notáveis especialistas no assunto em questão.
Histórias de “uma volta do relógio” são muito mais entretenimento do que informação. Nada mais do que “shots” de curiosidades, fofocas ou segredos nunca antes revelados.
Algum aluno “digital” mais espirituoso poderia me confrontar, e eu adoraria que isso ocorresse, dizendo: “Existe demanda para isso, professor!” Por questões óbvias, negar a veracidade desse argumento seria uma tolice. No entanto, a provocação seria retribuída com a seguinte afirmação: “Você tem razão, só não espere aprender algo relevante para sua vida profissional com um vídeo de 60 segundos. Isso não será possível”.
Confesso que já ousei comentar alguns vídeos de um minuto a respeito da história de algumas marcas ou de outros fenômenos de marketing no Instagram. Na maioria dos casos, fui rechaçado, bloqueado ou tive o comentário “escondido”. Acabei descobrindo que a maioria dos “guruzinhos coachs influencers” do mundo dos negócios, e mais especificamente do “marketing digital” (se é que isso existe), são extremamente sensíveis, odeiam um debate inteligente de ideias e estudam muito pouco os fundamentos daquilo que “nunca muda”.
Entender a trajetória de uma marca ou as razões estratégias indexadas ao surgimento ou desaparecimento de um produto, requer conhecimento sólido e maturidade líquida. Quanto maior a dose dos dois, melhor.
É preciso compreender que qualquer fenômeno mercadológico deve ser analisado a partir de uma demanda. Mais do que fundamental, é saber que tal demanda está sob a influência de pressões mercadológicas, favoráveis e desfavoráveis. Além disso, jamais esquecer que tais pressões podem ser eminentemente controláveis, totalmente incontroláveis e parcialmente controláveis.
Seja qual for a história a ser contatada a respeito de um fenômeno mercadológico, a perspectiva deve ser sempre essa. Assim como a investigação de um acidente aéreo, onde sempre se chega à conclusão de que nunca existe uma só razão que justifique o ocorrido.
Por fim, que não se deixe de assistir e enviar pequenos corações apaixonados aos vídeos de 60 segundos.
Mas que nunca se esqueça de que, como qualquer paixão, são efêmeros e propensos a gerar grandes ilusões.
A pior delas, é aquela de que se adquiriu algum conhecimento efetivo sobre alguma coisa.
Ricardo Poli é professor, palestrante, provocador, piadista e colunista da BRING ME DATA.
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As opiniões aqui contidas são de responsabilidade de seu autor e não refletem necessariamente a opinião da Bring Me Data e do blog da Macfor.